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Vender a alma ao diabo

por Eduardo Louro, em 05.12.15

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Sempre houve, e continuará a haver, projectos que não vingam. QueImagem relacionada acabam, mais tarde ou mais cedo, por ficar pelo caminho. Mesmo nos jornais, e mesmo que achemos que os jornais são sempre mais qualquer coisa que outro projecto empresarial qualquer. Muitos são os títulos que já não existem se não na nossa memória. Longínqua, como o Século, a República, o Diário de Lisboa, a Capital, o Jornal... Ou mais recente, como o Independente, o Tal e Qual, o 24 Horas… Outros resistem e por aí continuam, mas depois de sucessivas operações de encolhimento – down sizing, como se gosta de dizer – sempre com dezenas ou centenas de jornalistas remetidos ao desemprego.

Quero com isto dizer que o encerramento dos jornais Sol e i, que irá mandar para o desemprego mais de uma centena de pessoas, jornalistas, na sua esmagadora maioria, e que foram os dois grandes projectos editoriais na última década, podem ter sofrido dessas mesmas contingências.

Mas a verdade é que, independentemente dos méritos e deméritos destes dois projectos, tão separados à nascença mas agarradinhos na morte, o negócio dos media mudou radicalmente na década em que apareceram. Saíram a ganhar os consumidores – pelo menos no imediato, ainda é cedo para se fazer essas contas – que passaram a ter à mão, em qualquer lugar, a qualquer hora, e gratuitamente, uma variedade de produtos e conteúdos informativos muito mais alargada. Saiu a perder o lado da oferta. Foi mau para os empresários do negócio, e pior ainda para os trabalhadores: os leitores fugiram, e com eles, evidentemente, fugiram as receitas da publicidade que rentabilizavam o negócio. E não há investidores para negócios que não sejam rentáveis…

A não ser que…

Aí está: a não ser para investir noutra coisa que não seja no negócio. A não ser que, em vez de investir em jornais, se esteja a investir em poder e influência para potenciar outros negócios, abrindo brechas irreparáveis na ética e nos princípios. Com responsabilidades dos investidores, mas também muito frequentemente dos próprios jornalistas. Dos que deixaram de o ser para pura e simplesmente venderem a alma ao diabo, e dos que se viram obrigados a trocar os princípios deontológicos e os valores éticos pelo supremo interesse da defesa do posto de trabalho, que não passa do simples adiamento do despedimento certo!

 

PS: Este artigo da Fernanda Câncio, hoje no Diário de Notícias, talvez ajude a perceber o título. Entristece-me, mas não me mata o orgulho de fazer parte da parte bonita da História do Sol. 

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