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A coligação já tem nome. Demorou, não era fácil a tarefa dos markteers, usada e abusada que estava a sigla AD,da velha Aliança Democrática de Sá Carneiro e Freitas do Amaral (ou de Adelino Amaro da Costa?).
Mas chegou, mesmo que atrasada: "Portugal à frente", mesmo que atrás do tempo. Do ponto de vista do puro marketing até poderá nem ser mal escolhido. Estar à frente é sempre mobilizador, estar à frente é sempre meio caminho para chegar à frente. Lá diz o povo:"candeia que vai à frente alumia duas vezes"!
O problema é quando se tem que contextualizar. O problema é quando se sai do marketing puro e abstrato para um marketing de contexto. Aí, "Portugal à frente" deixa sempre Portugal atrás. Cada vez mais atrás em tudo. Cada vez mais atrás em todos os índices de desenvolvimento, cada vez mais atrás nas estatísticas internacionais. Cada vez mais atrás, cada vez mais pobre, cada vez mais velho, cada vez mais isolado, cada vez mais longe ...
Os markteers que se chegaram à frente poderão até ter pensado noutro contexto. Terão talvez pretendido deixar a ideia que a coligação resultava de um imperativo de colocar "Portugal à frente" dos interesses das partes. À frente dos interesses do PSD e do CDS, de Pedro Passos Coelho e Paulo Portas.
Seria bonito. Talvez até comovente, mas não cola. A única coisa que nesta coligação não deixa dúvida nenhuma é o particular interesse que nela têm ambos os líderes. Não só pela forma como potencia em mandatos os resultados eleitorais de ambos, mas porque é o cimento que nesta altura pode segurar alguma coisa. O que os segura ao poder, que é a única coisa que mantém Passos e Portas agarrados. Pouco interessados em colocar "Portugal à frente" mas muito interessados em manter Portugal atrás deles!
À frente só mesmo a braguilha aberta...
Há vários anos, que ouvimos reputados economistas da nossa praça, afirmarem que Portugal consome bem mais do que produz, o que traduzindo para a linguagem comum, significa que há muito que Portugal vive, bem acima das suas possibilidades. O Estado português é um bom exemplo disso mesmo. O endividamento não preocupa quem nos desgoverna, que actuam na lógica do, "logo se vê quem paga e como paga". Somos, portanto, (des)governados há vários anos, por gente extravagante, ou melhor por gente irresponsável.
Há vários anos que também ouvimos falar nos "jobs for the boys", um "prémio atribuído", aos que se dedicaram de corpo e alma, desde muito novos, ao exigente trabalho de, bajular, aqueles que ocupam, ou que poderão vir a ocupar a cadeira do poder.
Os dois parágrafos já escritos, são um retrato fiel, do Portugal contemporâneo. No entanto, este post foi "pensado" à escala local. Não sei o que se passa em outras localidades do país (embora não me pareça que existam grandes diferenças), mas o facto é que Vila Nova de Famalicão (sobretudo a cidade), parece viver deslocada da realidade. Não me refiro sequer ao exibicionismo e às extravagâncias, dos habitantes da cidade, refiro-me sim às ideias, para mim megalómanas, do Presidente Armindo Costa, em levar avante, brevemente, a construção dos seus "elefantes brancos", o Parque da Cidade e a Cidade Desportiva.
Vila Nova de Famalicão, localiza-se no Vale do Ave, uma das regiões mais desfavorecidas (roubadas) do país. Uma região onde o desemprego atingiu há muito os dois dígitos, devido à grave crise que atingiu o sector têxtil. Uma região que carece de ajudas governamentais. Um concelho, onde em algumas freguesias, se "respira pobreza" por todos os lados. No entanto pese embora estes pequenos aspectos, os governantes locais, pensam não em canalizar verbas para ajuda social, mas sim, enterrar 30 milhões euros num parque e ainda mais milhões na criação de uma cidade desportiva. Ou seja, tal como os governantes nacionais optam por gastar na zona de Lisboa, os governantes locais, optam não por redistribuir verbas pelas freguesias (ainda existem freguesias sem saneamento básico, sem um recinto desportivo digno, etc), mas sim, em gastar tudo com futilidades na cidade.
Localmente, e tal como a nível nacional, também são vários os exemplos dos"jobs for the boys". O PS, tal como a nível nacional, é o campeão neste capítulo. Luís Moniz, filho do actual governador civil de Braga e antigo deputado socialista, Fernando Moniz, é o caso mais emblemático. Luís Moniz rapidamente chegou à liderança da JS local. Daí a um cargo na administração do Hospital de Barcelos foi um pequeno passo. Tal como em muitos outros casos, não existiu concurso público. Foi nomeado e prontos, assunto encerrado.
Ivo Sá Machado, um antigo presidente de uma junta famalicense, historicamente PS, é outro caso engraçado. Professor de profissão, viu recompensado o seu trabalho na junta da vila de Joane, com um cargo na administração do Hospital São João de Deus. Como no caso do Luís Moniz, o processo ficou marcado pela inexistência de concurso público. Ivo, foi substituir na administração, António Barbosa, outro militante do PS local, ex-candidato à Presidência da Câmara, que viu recompensado esse esforço, primeiro com um cargo na administração do hospital famalicense e agora com um cargo na administração do hospital de Guimarães, uma espécie de promoção, portanto.
Desengane-se no entanto, quem acha que existem grandes diferenças para a coligação PSD/CDS-PP, actualmente no poder em Famalicão. Começando pelo "protocolo" (toda gente sabe o porquê desse protocolo) entre a Câmara e a Faculdade de Arquitectura local, passando, pelas inúmeras contratações a nível de secretariado, assessores, etc, acabando no facto de curiosamente as obras municipais serem adjudicadas sempre às mesmas empresas (aliás é notável o crescimento de algumas desde que a coligação chegou ao poder). Nada de novo, ou de surpreendente, apenas e só um fiel retrato do que se passa no país.
Em jeito de conclusão, apenas digo que quer a nível local, como a nível nacional, noto acima de tudo, um total alheamento da população face ao que vergonhosamente se vai passando nos obscuros bastidores do poder político. Esse alheamento já nos está a sair caro, mas, mais caro ficará com o passar dos anos. Mais tarde ou mais cedo, mais dia ou menos dia, os portugueses vão ter de "acordar" para a realidade, no entanto, receio bem que esse dia chegue demasiado tarde. Oxalá esteja errado.
Se a ultima comissão uniu o Bloco de Esquerda e o PSD, interessante união, para se apurar o negocio da tentativa de compra da TVI pela PT, tentando com essa manobra entalar Sócrates, pode ser que agora o Bloco se una com o PS para entalar o PSD e o CDS.