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Quem engana quem

por Eduardo Louro, em 24.08.15

 

 

Afinal a Comissão Europeia não tem nada a ver com o negócio da venda da TAP. Diz que que não se ocupa de peanuts, que o negócio não é suficientemente grande para lhe merecer atenção. Sardinhas sim, negócios de sardinhas já lhe interessam...

Poderíamos facilmente achar normal que lhes interessasse apenas os grandes negócios. Com um bocadinho de mais esforço poderíamos até achar normal que lhes interessasse sardinhas, e que não se preocupem nada com negócios de aviação. O que não é nada normal é que o Sr David Neeleman não soubesse nada disso, dando-se ao trabalho de engendrar um negócio com o Sr Humberto Pedrosa para enganar quem não precisava de ser enganado.

É já público, e por isso não estou a cometer nenhuma inconfidência - nem sequer a trair a confidencialidade com que, em tempo útil, fui informado da marosca - que os 49% das acções do Sr Neeleman no consórcio Atlantic Gateway, a quem o governo entregou a TAP, valem 95% do investimento e 74,5% dos interesses, seja em dividendos, seja na liquidação. E que o Sr Humberto Pedrosa até não se fez pagar mal para fazer o papel que fez: afinal consegue quintuplicar em interesses o valor do investimento. Com 5% de investimento - que, mesmo assim, foi pedir ao Estado - adquire uma posição que lhe garante 24,5% da empresa de que detém 51% das acções.

Poderia perceber-se que o Sr David Neeleman tanto quis enganar que acabou ele próprio enganado. Poderia, mas é apenas mais uma coisa que é capaz de não ser normal .

Com tanta coisa pouco normal neste "quem engana quem" acabamos por desfiar o novelo. E não é com grande o risco de nos enganarmos que chegamos à conclusão que um "quem" é o governo e o outro somos todos nós. Que o Sr David Neeleman não foi nada enganado, foi simplesmente aconselhado pelo governo a fazer assim. 

 

 

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Nas asas do pêlo do cão

por Eduardo Louro, em 15.06.15

Jornal de Notícias

 

Ninguém tem dúvidas que a privatização da TAP foi sempre - e continua a ser - das coisas mais opacas deste governo. Ou pelo menos só tem dúvidas quem quer. 

Nada foi público. Mas concluída a operação - dada por concluída, porque o que neste momento existe é uma promessa de venda - algumas coisas se vão sabendo. Umas mais estranhas que outras...

Era estranho que a parte minoritária do consórcio é que soubesse de aviões. Era estranho que o senhor da Barraqueiro estivesse a pensar que a TAP era a Carris. Mas deixou de ser estranho quando o senhor que sabe de aviões ainda não abriu a boca e o senhor que sabe de autocarros já está a dizer que o que a TAP mais precisa é de um patrão como ele. E quando aproveitou para escalrecer isso mesmo ao Secretário de Estado Sérgio Monteiro, que não estava enganado, e que aí estaria pronto também para a Carris, o Metro e a Transtejo. Que os saldos não ficariam na loja...

Estranha não é a notícia que faz capa no JN, que dá conta que os novos donos da TAP vão vender aviões (da TAP) para financiar o negócio que fizeram com Pires de Lima. Nem estranho nem novidade, negócios em Portugal é sempre assim: com o pêlo do mesmo cão. Simples, tão simples como o ovo de Colombo: vendem-se os aviões, recebe-se o dinheiro, e depois alugam-se. E paga-se a renda...

Há para aí um século que isto se faz em Portugal. Chamam-lhe leaseback, e não é pelo novo acordo ortográfico...

É assim o fabuloso negócio que deixou Cavaco aliviado, e todo o governo entusiasmado com as asas que deu à TAP. Que Maria Luís Albuquerque, muito satisfeita, garantiu que colocaria "valores muito significativos na TAP" porque o objetivo nunca foi o encaixe financeiro para o Estado mas, sempre, encontrar "investidores que possam colocar na empresa os meios de que precisa para ultrapassar as dificuldades que tem, que são conhecidas"...

Estranho - ou talvez não - é que toda a gente queira fazer parecer isto normal! 

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Não se percebe...

por Eduardo Louro, em 16.05.15

Hoje no Expresso: 350 milhões para a TAP, 35 mil para o Estado

 

Olho para a capa do Expresso e olho para as contas da TAP. Vejo um Passivo remunerado de 1.061 milhões de euros, e Capitais Próprios negativos em 512 milhões, e não percebo. Que o governo, como o primeiro-ministro foi esta semana dizendo, venda por valor simbólico - 1 ou euro ou 35 milhões, no caso não fazem grande diferença - pode aceitar-se. Que não entre capital para, no mínimo, retirar a TAP da situação de falência técnica é que não se aceita. Nem se percebe. Mas nisto de privatizações - e não é só nesta - já há tanta coisa que não se percebe...

 

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