Saltar para: Posts [1], Pesquisa e Arquivos [2]
Tenho enorme dificuldade em perceber por que é que as pessoas se não limitam a concordar ou a discordar da greve, a fazer ou não fazer greve, conforme a sua vontade e as suas possibilidades. Por que é que haverão de passar daí? E por que é que ainda acham que têm legitimidade para passar daí?
Se calhar é culpa de um mas que anda por aí: é que a greve é um direito. Inalienável, sagrado, inquestionável... Mas...É deste mas!
Não tem que haver mas. A não ser este: mas não tenho grande dificuldade em perceber que a democracia portuguesa se esteja a transformar numa miragem. Ou numa memória perdida. Que sociedade portuguesa esteja cada vez menos tolerante. Cada vez mais dividida... Cada vez mais próxima da rotura...
Uma boa leitura para o fim de noite: Os mais violentos, prestes a explodir, são os muitos homens e as mulheres à beira do desespero. Quando essas pessoas pegarem fogo às ruas não o vão fazer com os caixotes do lixo colocados, apesar de tudo, a meio da rua, para as chamas não chegarem aos prédios. Vai tudo a eito. Como faz a polícia.
Greve Geral sem a UGT. A imagem do país que só se move quando sente a faca. Contra mim falo.
Saúdo os que aderiram.
O que se passou está bem explicado em imagens e em vídeos, qual é a duvida?
Secretário-geral da CGTP diz que greve é "de todos e para todos". Na realidade e pelas imagens captadas nas manifestações, as bastonadas são de todos e para todos.
Hoje, em dia de greve geral, vou ser radical. Vou assumir uma atitude que lance a maior das entropias no sistema.
Hoje, vou mesmo trabalhar.
Pedro Passos Coelho considera que é hora de trabalhar e não de protestar. Quero isso dizer que só devemos protestar quando tudo está bem?
Ficamos asaber que afinal os cidadãos não estão todos a dormir.
Há assuntos sobre os quais devíamos conseguir entendermo-nos em definitivo para não sermos obrigados a repetir argumentos estafados sempre que a situação se repete. As greves provocam incómodos e, em geral, revelam-se inúteis. Tudo certo. Mas, nada incomoda mais do que os comentários que procuram sublinhar o incómodo e a inutilidade das greves. Estas são um direito que tem como único critério a vontade dos trabalhadores. É assim que as devemos encarar. Numa sociedade adulta, respeita-se sem adversativas o direito à greve e o correspondente direito à não greve. Depois, fazem greve os que entendem fazer, sofrem-nas os que devem sofrer e tiram-se as conclusões pertinentes. São os custos de viver em sociedade. Convenhamos, há por aí outros bem piores. Nunca fiz greve, nem tenciono fazer nos próximos tempos. Mas, no dia em que decidir fazer, não aceitarei que condicionem o meu direito a partir de um critério de utilidade ou do incómodo que pode causar. Da mesma maneira, não aceito que esse seja o critério a aplicar aos que entendem fazer greve no presente. Se virmos bem, muitas vezes as próprias eleições não servem para grande coisa e implicam custos elevados. Todavia, não tenciono prescindir do direito de votar por tais motivos, ainda que um dia, a propósito de um acto eleitoral concreto, decida abster-me. Aliás, numa análise de âmbito mais amplo sobre o mundo do trabalho, não me parece que o incumprimento das obrigações se situe, sobretudo, do lado dos trabalhadores. Mas, nos casos em que tal possa acontecer, é precisamente no campo da violação das obrigações, e não no da limitação explícita ou implícita do direito à greve, que se deve actuar. Num momento em que vivemos perdidos no relativismo, é importante valorizar a existência de direitos inquestionáveis, ainda que discordemos do momento, da forma ou das razões de quem os exerce. Até porque, mais cedo ou mais tarde, é muito possível que tenhamos necessidade de os exercer também. E é bom que, nessa altura, os encontraremos ainda assim. Intocáveis e imunes a critérios de conveniência arbitrados por terceiros.