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... Hoje cantou-se Grândola no Funchal. Fez-se festa na tomada de posse do novo presidente da Câmara, falou-se de mudança e de Primavera. Falou-se de cidadania e cantou-se que o povo é quem mais ordena dentro de ti … ó cidade. No Funchal, na Madeira…
Em Lisboa, uma bancária de 50 anos e de apelido a condizer, cansada do anonimato, para se dar a conhecer decidiu agradecer não se sabe bem o quê à troika. Coitada, não sabe cantar…
A única coisa que não ajudará à democracia será a instituição de uma ditadura. De resto, penso que não fará sentido dizer o que ajuda, ou não, à democracia, sendo esta um dado consumado. Mas uma coisa é certa: dizer que o direito ao protesto não ajuda à democracia não é próprio de uma presidente da Assembleia da República de um regime democrático.
A canção "Grândola, vila morena", como todos sabemos foi o hino da "revolta" de 74.
Atualmente estamos no ano de 2013, e porquê se usar uma canção que apesar da enorme carga simbólica que tem para a maioria dos portugueses, se a mesma foi criada num contexto diferente do que atualmente vivemos.
Porque não a criação de outra canção, simbólica também, que sirva de guia e hino para a atual situação?
Teremos sempre de usar a mesma "cassete", passe a expressão?
Não teremos nós, portugueses, entre tantos artistas de qualidade inolvidável, autores, compositores, poetas... que criem uma canção de raiz para demonstrar o descontentamento geral nacional?
Tantas razões existem que poderiam servir para tema e inspirar essas mentes criativas.
É que estar constantemente a "grandolizar" as manifestações, apenas retira a carga simbólica desta música que tanto nos diz, para qualquer dia, servir de comparação in extremis ao "harlem shake" ou ao "cangnam style", porque de facto já começa a criar alguma insatisfação em ser ouvida por tudo e por nada e esta banalização só irá originar a sátira impura sobre a mesma.
As lutas e as manifestações existem porque de facto são necessárias e urge o tempo para que mais algo se tenha de fazer.
E estar a cantarolar a "grândola" à toa, de certo não orgulhará a quem serviu de bandeira para se "rebelar" numa época em que a livre expressão não existia e se atualmente nos pudemos manifestar quando queremos e como queremos, poderemos então utilizar novas formas de expressão que não tirem o protagonismo a outras que existiram.
É a minha opinião, a opinião de alguém a quem ainda faz tremer e vibrar a entoação de "o povo é quem mais ordena..." apesar de saber que cada vez mais, isso é utópico.
Enquanto ela dormia, os outros marchavam ao encontro do seu objetivo.
Ouviam-se os seus passos.
Uma marcha ecoava na escuridão.
Uma voz ergueu-se:
Grândola, vila morena
Terra da fraternidade
O povo é quem mais ordena
Dentro de ti ó cidade
Os soldados libertadores iniciavam a sua marcha e os seus passos serviam de fundo à voz melódica de Zeca Afonso, nessa noite fria, de quarta para quinta-feira:
Em cada esquina um amigo
Em cada rosto igualdade
Grândola vila morena
Terra da fraternidade
Uma revolução dificilmente poderia arrancar de forma mais poética.
Talvez isso nos venha da nossa alma moura, a mesma que nos ensinou o que significa a palavra «saudade». Como todas as melodias de cariz alentejano, a Grândola possui aquele inconfundível toque árabe…
À sombra duma azinheira
Que já não sabia a idade
Jurei ter por companheira
Grândola tua vontade
Nessa «noite solene», como Salgueiro Maia lhe chamou, transpareceu a nossa alma moura. Como não podia deixar de ser… E mais ninguém enviaria, pelo Natal, de lágrimas nos olhos e de microfone na mão, mensagens pela TV.
Acabei de ouvir, hoje tive um dia que não me permitiu grande atenção às noticias, um fulano do PSD considerando que estas manifestações contra Miguel Relvas se trataram de uma abalroamento da Democracia. Pois para mim, acredito que para uma maioria, abalroamento da Democracia é quando um governo espezinha todo um povo e ele não reage. Se, conforme diz o fulano do PSD, a democracia é liberdade de quem está no governo se exprimir, o que é verdade, democracia é também o direito à indignação de um povo que chegou ao limite do tolerável.