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Hoje é o dia mais pequeno do ano. A partir daqui é sempre a crescer. Até Junho, depois voltam a ser cada dia mais pequenos, sempre a diminuir!
Faz lembrar a nossa economia. É assim que acaba a recessão!
Somos um país de exagerados. Há poucos dias discutia-se um possível segundo resgate e agora discute-se sair do programa de ajustamento sem solicitar um programa cautelar. Subitamente tudo muda: uma pequena subida na economia e muitos fazem logo a festa.
Durante algumas décadas o erro não existia. Até que alguém percebeu que uma vírgula no sítio errado atribuía aos espinafres maior teor em ferro do que ele tinha na realidade. Pelo meio, E. C. Segar criava o Popeye.
Hoje em dia, os erros, em folhas de cálculo, por exemplo, feitos por economistas, servem também de base a alguns mitos mas, a serem fonte de inspiração para uma personagem animada, ela seria bem menos musculada...
Talvez esteje para breve o fim comercial das moedas de um e dois cêntimos, uma vez que a Comissão Europeia pondera acabar com as mesmas e relegá-las a meras moedas colecionáveis.
Se tal acontecer, esta é de facto uma das formas mais fáceis de se aumentar qualquer produto logo no imediato, uma vez que pelo hábito é mais fácil se arredondar para cima que o seu inverso.
Já estou é a imaginar como serão as flutuações do preço da gasolina e do gásoleo nas estações de serviço ou até mesmo as promoções nos supermercados...
A ver vamos se não será mais uma medida para lixar o "mexilhão"...
É um facto que foi lá muito longe mas quem sabe...
Excelente...90 segundos a ler...
Curiosa teoria económica anunciada nos Estados Unidos. O tipo chama-se Marc
Faber. É analista e empresário. Em Junho de 2008, quando a Administração
Bush estudava o lançamento de um projecto de ajuda à economia americana,
Marc Faber escrevia na sua crónica mensal um comentário com muito humor:
"O Governo Federal está a estudar conceder a cada um de nós a soma de 600,00
$. Se gastamos esse dinheiro no Walt-Mart, esse dinheiro vai para a China.
Se gastamos o dinheiro em gasolina, vai para os árabes. Se compramos um
computador o dinheiro vai para a India. Se compramos frutas, irá para o
México, Honduras ou Guatemala. Se compramos um bom carro, o dinheiro irá
para a Alemanha ou Japão. Se compramos bagatelas, vai para Taiwan, e nem um
centavo desse dinheiro ajudará a economia americana. O único meio de
manter esse dinheiro nos USA é gastando-o com putas ou cerveja, considerando
que são os únicos bens realmente produzidos aqui. Eu já estou a fazer a
minha parte..."
RESPOSTA DE UM ECONOMISTA PORTUGUÊS IGUALMENTE DE BOM HUMOR:
"Estimado Marc: Realmente a situação dos americanos é cada vez pior.
Lamento no entanto informá-lo que a cervejeira Budweiser foi recentemente
comprada pela brasileira AmBev. Portanto ficam somente as putas. Agora, se
elas (as putas), decidirem mandar o seu dinheiro para os seus filhos, ele
viria directamente para a Assembleia da República de Portugal aqui em
Lisboa, onde existe a maior concentração de filhos da **** do mundo".
(Recebido por mail)
O meu Sporting anda a abusar na anestesia e eu já estou quase em coma. Vai daí, neste estado semi-letárgico e nebuloso que é a "quase inconsciência", ouvi falar do Presidente da República, que deve ser do Belenenses ou do Boavista, porque já está em estado pré-comatoso há imenso tempo.
Diz ele que está preocupado com a situação económica do país, que acha que os empresários vão passar um mau bocado e que o povo está descontente e até já se manifesta nas ruas.
Ora, vê-se logo que o meu "quase coma" é muito mais recente, ou muito mais leve, porque apesar de ocupar algum tempo da minha vida a ouvir relatos de futebol, até eu - pobre ignorante que não é licenciada em economia - tenho a consciência de que os empresários estão condenados (except the big ones), que o país está moribundo e que a população está sufocada há muito tempo e a dar sinais cada vez mais óbvios de uma revolta que acabará por estalar.
Talvez porque a minha formação de base seja História, parece-me - mas isto é só uma opinião insignificante - que as grandes crises só se ultrapassaram com:
Que Cavaco Silva nada tem de Mestre de Avis nem de Fontes Pereira de Melo (embora eu ache que ele se julga uma espécie de Marquês de Pombal, mas só com aquela parte da pose de Estado), já nós sabíamos há muito tempo. Prova-se agora, de cada vez que abre a boca, que também não se assemelha em nada ao Padre António Vieira.
Não sou especialmente fã de Miguel Sousa Tavares mas parece-me suficientemente bem explicado para que os génios da economia em portugal possam entender.
YALE, CAMPO DE OURIQUE
Miguel Sousa Tavares (in Expresso, 29/9/2012)
Quando o Governo subiu o IVA de 13 para 23% na restauração, António, temendo as consequências da subida de preços no seu pequeno restaurante de Campo de Ourique, resolveu encaixar ele o aumento, sem o repercutir no preço das refeições. Aguentou até poder, mas mesmo assim a clientela começou a baixar lentamente: parte dela, que lhe assegurava umas trinta refeições ao almoço e metade disso ao jantar, era composta por funcionários públicos, que trabalhavam ali ao lado e cujos salários e subsídios tinham diminuído, com a medida destinada a satisfazer as condições do "ajustamento" da economia.
Quando reparou que Bernardo, um cliente fiel e diário, tinha passado a frequentar os seus almoços apenas três vezes por semana, António tomou aquilo como sinal dos tempos que ai vinham: sem outra alternativa, despediu a ajudante de cozinha, ficando apenas ele e a mulher no serviço de balcão e mesas e, lá dentro, um cozinheiro sem ajudante. Mas a seguir notou que também Carolina e Deolinda, que vinham almoçar umas três vezes por semana, agora vinham apenas uma e pouco mais comiam do que saladas ou ovos mexidos. Em desespero, teve de subir os preços e Eduardo, um reformado cuja pensão tinha diminuído, desapareceu de vez. Foi forçado a cortar drasticamente nas compras a Francisco, o seu fornecedor de peixe, e a atrasar-lhe os pagamentos: com cinco outros restaurantes, seus clientes, na mesma situação, Francisco viu o seu lucro reduzido a zero e optou por fechar a sua pequena empresa e inscrever-se no Fundo de Desemprego.
Mais tarde, quando Gaspar, o ministro das Finanças, anunciou mais um aumento do IRS e declarou que o "ajustamento" não se faria através do consumo interno, também Bernardo desapareceu para sempre e, depois de três meses sentado na sala vazia, dando voltas a cabeça com a mulher e tendo ambos concluído que já era tarde para emigrarem, António tomou a decisão mais triste da sua vida, encerrando o restaurante Esperança de Campo de Ourique e indo os dois engrossar também o rol dos desempregados a conta do Estado.
Apesar de ter gasto parte, agora importante, das suas poupanças de anos a anunciar o trespasse, António não conseguiu que ninguém lhe ficasse com o estabelecimento e não lhe restou alternativa senão entrega-lo ao senhorio Henrique, para não ter de pagar mais rendas. Quando desabou, demolidor, o novo aumento do IMI, já Henrique tinha desistido de conseguir alugar o espaço ou mesmo vender o imóvel: não pagou e deixou que as Finanças lhe levassem o prédio.
Assim se concluiu, neste pequeno microcosmos económico de Campo de Ourique, o processo de "ajustamento" da economia portuguesa: vários trabalhadores reconvertidos a marmita, cinco outros desempregados, duas pequenas empresas encerradas e um senhorio desprovido da sua propriedade.
Nessa altura, Gaspar, Rufus e Selassie deram-se conta, com espanto, de várias coisas que não vinham nos livros: que, apesar de aumentarem sistematicamente a carga fiscal, podia acontecer que a receita do Estado diminuísse; que os sacrifícios sem sentido implicavam mais recessão e a recessão custava mais caro ao Estado, sob a forma de mais subsídios de desemprego a pagar; que uma e outra coisa juntas não tinham permitido, ao contrário das suas previsões, diminuir o défice ou a dívida do Estado; e que o que mantinha o país a funcionar não eram as grandes empresas e grupos económicos protegidos, nem sequer os 7% de empresas exportadoras, mas sim os 93% de empresas dirigidas ao mercado interno, que respondiam pela esmagadora maioria dos empregos e atendiam as necessidades da vida corrente das pessoas comuns.
E, passeando melancolicamente nos jardins de Yale, numa chuvosa manhã de Thanksgiving, Rufus e Selassie deram com um velho cartaz colado a uma parede, desde os tempos da primeira campanha eleitoral de Bill Clinton: "É a economia, estúpidos!".