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Como diz a canção, hoje é o primeiro dia do resto da vida ... deste que é o XXI primeiro governo constitucional. Um governo que o Presidente não queria por nada, tudo fazendo para começar a desgastar ainda antes de empossar.
Cada um dos inúmeros episódios destes últimos 50 dias, naquilo que aqui fomos chamando de processo de encanar a perna à rã, não teve outro objectivo que desgastar e desacreditar a solução de governo que resultou das eleições de 4 de Outubro. As ameaças que ontem, no acto de posse do governo, Cavaco deixou no ar não são outra coisa.
Nas poucas semanas que lhe restam em Belém, Cavaco vai continuar a fazer a mesma coisa. Não vai demitir o governo, mesmo tendo esse poder. Mas vai, tanto quanto puder, fazer-lhe a vida negra!
Valha-nos que, mesmo com os poderes intactos - e legitimados pelo voto directo e universal, como fez questão de acentuar - pode pouco. Porque, mesmo que formalmente a mantenha, há muito que perdeu de facto essa legitimição. E hoje não é mesmo mais que o último reduto da direita mais ressabiada e míope.
Já bastam as dificuldades de toda a ordem que este governo vai ter pela frente. Já bastam os equilíbrios de sustentação que tem que gerir, os alçapões da governação destes últimos quatro anos e meio - e até a minagem deste últimos meses - e as enormes dificuldades estruturais que o país tem para vencer. Para ter vida difícil o governo não precisa nada das rasteiras do presidente.
Pelo contrário, ao dedicar-se a fazer a vida negra ao governo em vez de tranquilamente fazer as malas e a limpar as prateleiras, Cavaco só reforçará e prolongará a vida ao governo que detesta!
Quando - vai para trinta anos - a troco de um prato de lentilhas, Cavaco mandou destruir a frota pesqueira nacional, não estava a cometer um crime contra a economia nacional. Estava apenas a revelar uma rara visão de longo prazo, só ao alcance dos eleitos, de homens providenciais. Dos verdadeiros visionários!
Demoramos anos - quase trinta, vejam bem o avanço que nos dá - a percebê-lo. Perdão, demorou anos a explicar-nos, mas finalmente explicou-o hoje, em plena Pérola do Atlântico, onde cumpria a sua missão de encanar a perna à rã, agora na fase a que pomposamente chamou Roteiro para uma Economia Dinâmica. Um Roteiro que se esgotou nas inaugurações de um centro de design, uma adega e um hotel. E numa visita a uma empresa de piscicultura.
Aí está. Quer dizer, foi aí. Justamente aí, que Cavaco explicou a revelação que o futuro lhe fizera há quase trinta anos atrás. A única forma - revelou hoje - de Portugal, enquanto grande consumidor de peixe, resolver o problema das suas contas externas é " produzir peixe nestas quintas de peixe, fish farms como os ingleses lhe chamam"!
Gostando os portugueses, como gostam, do seu peixinho para que é que o país queria uma frota pesqueira?
Para pescar, responderia o comum dos mortais. Para pescar o peixe de que os portugueses tanto gostam. Para nada, respondeu há trinta anos Cavaco. É que não só não são preciso barcos para apanhar o peixe na farm - talvez fisgas bastem - como essa é a ùnica forma de, por força dessa mania de comermos peixe acima das nossas possibilidades, resolver o problema das nossas contas externas.
E, com os cofres cheios e o problema das contas externas resolvido, qual crise, qual carapuça?
Cada tiro - perdão: cada fisgada - cada melro!
Cavaco, pelos vistos divertidíssimo, continua a brincar com coisas sérias, dando sinais de irresponsabilidade pouco apropriados à função que ocupa no topo da hierarquia do Estado.
Entretidíssimo a encanar a perna a rã, e sem noção do ridículo a que se expõe, vem dizer que ele próprio esteve em gestão durante cinco meses. Percebe-se a intenção: se eu – ele, evidentemente – que sou eu, estive em gestão…
Não admira, sabe-se que se tem em boa conta. Nós, é que não. Já não conseguimos tê-lo em grande conta. Para encanar a perna á rã já não lhe bastava ir para a Madeira. Nem dizer que ainda lhe falta ouvir muita gente, para "recolher o máximo de informação junto daqueles que conhecem bem a realidade social, económica e financeira" do país. Faltava-lhe ainda comparar as circunstâncias de um governo em gestão, em 1987, entre Abril e Agosto – também não são exactamente cinco meses, como 2009 também não é 2011, mas a isso já nem ligamos – a meio da legislatura e no meio do ano, com o orçamento aprovado e em execução, com as da actualidade: com o país acabadinho de sair de eleições, às portas do fim do ano, sem orçamento e com as cadeiras donde a gente da troika levantou o rabo ainda quentes.
Alguém que lhe diga que já não há paciência…Que já não é um presidente - é uma afronta!
Subitamente este país descobriu que a nossa democracia se baseia na Assembleia da Republica e só governa quem tem o apoio dos deputados.
O nobre Presidente da Republica, Cavaco Silva, indigitou quem ganhou as eleições. No seu discurso à nação Cavaco Silva fez considerandos que fizeram envergonhar os pilares da Assembleia da Republica. Para o Presidente da republica existem partidos que não são capazes de estar no governo. A distancia entre a isenção proclamada por Cavaco Silva, juntamente com o seu "presidente de todos os portugueses" e a realidade, vai uma grande distancia.
Por voto secreto e sem constrangimentos, Ferro Rodrigues foi eleito Presidente da Assembleia da Republica: democracia a funcionar, meus caros.
O que faz quem não gosta de ver o Parlamento português democraticamente a funcionar?
Fácil: faz declarações ao país onde espuma pela boca enquanto faz considerações sobre partidos que tiveram mais de um milhão de votos. Vai para as redes sociais fazer julgamento de carácter ao novo Presidente da Assembleia da Republica.
Pois, descobriram que temos uma Assembleia da Republica onde assenta o nosso sistema democrático. Pois, habituem-se!
Confesso que nunca fui muito entusiasta do 10 de Junho. Acho que faz todo o sentido comemorar Camões: um génio e um patriota. Temos o dever de celebrar os nossos génios, os melhores de nós, e a obrigação de enaltecer os patriotas, por muito que as qualificações possam ser discutíveis. Porque se génio, é génio, seja em que circunstância for, já patriota não é bem assim. Tem mais a ver com o sabor das marés...
Camões é, e representa o suficiente para merecer um dia, numa altura em que há dias para tudo, mesmo que se cortem os feriados. Não era preciso meter mais no mesmo saco.
Dia de Portugal? Dia das comunidades? Lembram-se que também já foi dia da raça?
É isso mesmo. Serve para tudo, até para o piorio...
Depois, as condecorações fizeram o resto... Fizeram deste um dia com demasiado cheiro a mofo, o dia de comemorar o regime. O dia em que o regime olha para o seu umbigo. O velho dia da raça, sempre ao serviço da ideologia do regime... Os últimos dez 10 de Junho têm sido isso. Porque Cavaco é isso!
Este de hoje é o último destes últimos dez 10 de Junho. E nessa medida um alívio...
Não será certamente o último 10 de Junho a cheirar a mofo, mas desejo que seja o último que o Presidente da República utilize para pagar favores. O último em que o inquilino de Belém agracia os que o ajudaram a lá chegar. O último em que distribui comendas por quem lhe limpou o caminho... Ou por renomados malfeitores. E o último em que o Presidente da República faça descarada e despudoradamente campanha eleitoral em favor dos seus!
Que este tenha sido o último 10 de Junho igual aos outros. Mesmo que desta vez tenham sido os militares a desmaiar...
Está confirmada a recondução de Carlos Costa à frente do Banco de Portugal. Depois de esconder a decisão durante algumas semanas, Passos Coelho confirmou-a. Poucas semanas depois do Relatório da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) ter acusado, como acusou, o governador do Banco de Portugal. Numa semana em que as pensões da Segurança Social, e a sua sustentabilidade, estão no topo da actualidade, sem que ninguém fale dos milhões que o BES lhe destruiu. Com a responsabilidade óbvia de Carlos Costa. Que Cavaco, sempre na linha da frente na defesa das mais indefensáveis posições do governo de Passos, se apressou a ratificar. Não há ninguém em Portugal mais bem preparado para a função, disse ele.
Longe vai a velha ambição de Sá Carneiro. Estamos numa nova e triste era: uma maioria, um governo, um presidente ... um governador do Banco de Portugal ... uma Autoridade Tributária ... uma Segurança Social ... Tutti quanti!
Porque no poder tudo se compra. E tudo se paga!
O governo tinha de ficar de fora do superescândalo do BES, que fez do BPN uma brincadeira de crianças, para utilizar a terminologia do primeiro-ministro. O Relatório da CPI serviu-lhe os intentos, sacrificando Carlos Costa. Que se manteve firme e hirto, inabalável, quando qualquer pessoa digna e adequada à função, assim enxovalhada, não hesitaria em demitir-se.
Passos Coelho pagou-lhe o serviço. Limitou-se a pagar. Cavaco fez o resto, resgatou-lhe a credibilidade. Para, com isso, também ele lavar dali as mãos... Bem sujas, como bem nos sabemos, naquelas recomendações que ninguém esquece. As tais almofadas que garantia existirem ...
Faz hoje 30 anos que Cavaco chegou à liderança do PSD, que não à vida política. Já em 1979 tinha sido ministro das finanças do governo da AD, liderado por Sá Carneiro.
Foi na Figueira da Foz, onde decorria o XII congresso do PSD. Quis que ficasse para a história que tinha acabado de adquirir o seu Citroen BX, a que precisava de fazer a rodagem. E que, para isso, nada melhor que uma viagem de Lisboa à Figueira... Depois... foi chegar, ver e vencer... O discurso arrebatador - imagine-se - e a eleição apoteótica...
Cavaco é isto. Tudo é Cavaco neste simples episódio, que o cavaquismo quis tornar mítico. Ali está o homem providencial, que sempre quis ser. Que está sempre à hora certa no local certo, sem nada fazer por isso. Sempre fora, sempre e acima, dos bastidores da política. Mas também um certo provincianismo da revisão do carro.
O resto da história conhece-se. O homem da estabilidade rompe de imediato com a coligação, e derruba o bloco central. Com o país a sair da crise e das garras do FMI, e a adesão à CEE à vista, apetecem-lhe eleições antecipadas. Ganha por pequena margem, que em pouco tempo o PRD e Mário Soares (a vingança tem destas coisas) transformaram em maioria absoluta. E em dez anos de poder agarrado ao alcatrão e ao betão dos fundos europeus... e aos interesses que à sua sombra cresceram. Que nem cogumelos...
Depois, à segunda, o homem que não era nem nunca fora político, tem direito a mais dez anos na presidência da República. Ainda faltam uns meses...Que toda a gente deseja que passem depressa!
Cavaco Silva passa a vida dizer que a sua presidência não é visível aos olhos dos portugueses, mas nos bastidores move mundos e ajuda Portugal.
Falta saber se toda esta ajuda invisível nos empurra para cima ou para baixo?
Hoje, nos fiordes da Noruega, onde não consta que haja cagarras, Cavaco falou da propensão dos portugueses para o consumo de peixe, de que são dos maiores consumidores mundiais per capita. E passou de imediato a lamentar o défice comercial no sector, para depois dizer que basta. Que os portugueses não podem continuar a consumir mais peixe do que produzem, transformando logo isso em desafios de investimento aos empreendedores. Presentes e ausentes...
Estava a ouvir isto e não queria acreditar: não me digam que o homem vai fazer mea culpa e, já não digo que peça desculpa pelo que fez às nossas pescas – isso era uma impossibilidade, afinal continua sem dúvidas e sem se enganar –, mas acredita que já ninguém se lembra, e vai apelar ao investimento na nossa actividade pesqueira?
Afinal ele até já por lá apelou ao próximo governo para criar o Ministério do Mar… Não durou mais que um ou dois segundos, a minha expectativa. Mal acabara de pôr o ponto de interrogação no fim da ideia, a acabar de arrumar aquele meu juízo, e já a da boca de Cavaco saíam, não perdigotos encharcados em bolo-rei, mas a revelação da chave do problema: aquacultura.
Tenho que concordar: tem muito menos riscos... Força emprendedores: em força para a aquacultura!
Diz o senhor Presidente da Republica, Cavaco Silva, que as eleições devem ser só em Outubro. Segundo Cavaco Silva é preciso ter cuidado para que as eleições não se realizem antes de forma a não termos campanha eleitoral na praia. Mais uma vez, infelizmente, o senhor Presidente anda desfasado da realidade. Há muitos meses, mas mesmo muitos meses, que vivemos já em campanha eleitoral. Além do mais, tenho a certeza, que mesmo com as eleições realizadas em Outubro, as Bolas de Berlim vendidas na praia vão ser embrulhadas em panfletos políticos.