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Depois do que fez - e não fez - com o BES e com o Banif, e dos milhares de milhões que tudo isso custou, custa e vai continuar a custar aos portugueses, o governo de Passos Coelho, há poucos meses e em cima das eleições, reconduziu Carlos Costa na governação do Banco de Portugal. Desde então, falhou a venda do Novo Banco, fez explodir o Banif e, para capitalizar o Novo Banco, não hesitou em deitar a mão a dois mil milhões de obrigações seniores detidas por investidores institucionais, decisão estrategicamente muito arriscada, para não dizer completamente errada, e de duvidosa legalidade, para não dizer muito provavelmente ilegal, como aqui se deu conta no final do ano passado.
Claro que os atingidos não acharam graça nenhuma à brincadeira e, primeiro que tudo - quer dizer, primeiro que a inevitável litigância, ameaçam não financiar mais bancos portugueses, com sérios riscos de o mercado fechar as portas à banca nacional.
Admitia-se, e outra coisa não era de esperar, que tinha sido uma decisão concertada com o governo e respaldada no BCE. Nada disso: primeiro - mas mesmo assim tarde, apenas depois das reacções internacionais - foi o governo a vir dizer que estava frontalmente contra a medida; e logo depois o BCE veio deixar claro que não apoiou aquela decisão, remetendo-a para a exclusiva responsabilidade do Banco de Portugal.
Como - a não ser em condições muito excepcionais, que nem a excepcional gravidade das asneiras de Carlos Costa contemplam - não se pode demitir o governador do Banco de Portugal, tem que ser o governador do Banco de Portugal a demitir-se. Obviamente... demita-se Sr Carlos Costa! Sabemos que se ganha muito bem, bem mais que o congénere americano, mas também sabemos que as reformas do Banco de Portugal não são nada más...
Está confirmada a recondução de Carlos Costa à frente do Banco de Portugal. Depois de esconder a decisão durante algumas semanas, Passos Coelho confirmou-a. Poucas semanas depois do Relatório da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) ter acusado, como acusou, o governador do Banco de Portugal. Numa semana em que as pensões da Segurança Social, e a sua sustentabilidade, estão no topo da actualidade, sem que ninguém fale dos milhões que o BES lhe destruiu. Com a responsabilidade óbvia de Carlos Costa. Que Cavaco, sempre na linha da frente na defesa das mais indefensáveis posições do governo de Passos, se apressou a ratificar. Não há ninguém em Portugal mais bem preparado para a função, disse ele.
Longe vai a velha ambição de Sá Carneiro. Estamos numa nova e triste era: uma maioria, um governo, um presidente ... um governador do Banco de Portugal ... uma Autoridade Tributária ... uma Segurança Social ... Tutti quanti!
Porque no poder tudo se compra. E tudo se paga!
O governo tinha de ficar de fora do superescândalo do BES, que fez do BPN uma brincadeira de crianças, para utilizar a terminologia do primeiro-ministro. O Relatório da CPI serviu-lhe os intentos, sacrificando Carlos Costa. Que se manteve firme e hirto, inabalável, quando qualquer pessoa digna e adequada à função, assim enxovalhada, não hesitaria em demitir-se.
Passos Coelho pagou-lhe o serviço. Limitou-se a pagar. Cavaco fez o resto, resgatou-lhe a credibilidade. Para, com isso, também ele lavar dali as mãos... Bem sujas, como bem nos sabemos, naquelas recomendações que ninguém esquece. As tais almofadas que garantia existirem ...
Não tenho duvidas, devido ao belíssimo historial das intervenções do Banco de Portugal nas diferentes crises e em particular no BES, que o sucessor de Carlos Costa só podia ser Carlos Costa.
Pode sempre compreender-se que um governo em fim de mandato, já no prolongamento, reconduza o governador do Banco de Portugal para mais um mandato. Se o governador vier de um mandato irrepreensível... Se o desempenho do governador tiver sido consensual, de méritos amplamente reconhecidos... Se não tivesse acontecido nada no BES... Se não houvesse centenas ou milhares de vítimas das burlas do BES... Se não tivessem sido enganadas milhares de pessoas no aumento de capital do BES... Se não tivessem acabado de perdoar 85 milhões em impostos... Se não estivessemos na iminência de pagar os milhões que ficarão a faltar depois da venda do Novo Banco... Se não estivessem muitos outros milhões para chegar pela litigância que está a ser preparada nos melhores gabinetes de advogados da capital...
O governador do Banco de Portugal, Carlos Costa, defendeu hoje que se verifica uma flexibilidade tácita nos salários e que isso está a suportar o reforço da competitividade externa.
Isso de flexibilidade é como governador chama a este ataque ao bolso do cidadão?
"Se não sabe, vá aprender." - Carlos Costa para o deputado João Galamba