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Uma das boas surpresas, na nossa viagem a Föhr, uma ilha no Mar do Norte, perto da fronteira entre a Alemanha e a Dinamarca, aconteceu logo no ferry-boat. Constatámos que não éramos os únicos a querer poupar o nosso animal de estimação ao stress da orgia pirotécnica de fim de ano. O ferry estava cheio de pessoas com os seus cães.
O tempo estava agreste. Apesar das temperaturas positivas (entre os 5 e os 8 graus) soprava um vento fortíssimo e gélido, que metia qualquer nortada portuguesa num bolso. Além disso, iniciámos a travessia pelas 16h 30m, ou seja, já escurecera. Não eram condições convidativas a uma permanência ao ar livre. Nos carros, também não era confortável, com os motores desligados, logo arrefeciam. Por isso, os passageiros encaminharam-se para o bar-restaurante do ferry, que, além de ser abrigado do vento, estava aquecido, claro.
Levámos a nossa Lucy connosco, não a queríamos deixar sozinha no carro frio. E foi quando deparei com algo que, admito, me comoveu: toda a gente assim agiu! Fossem pessoas sozinhas, ou famílias completas, com crianças de todas as idades (desde bebés a adolescentes), todos levavam os seus cães pela trela.
Centenas de pessoas sentaram-se no confortável bar-restaurante, iniciaram-se conversas com vizinhos de mesa que não conhecíamos. E os cães ao lado. Cães bonitos, bem tratados, sem qualquer tipo de cheiro, de pelo a luzir e olhos meigos, brilhantes, felizes. Alguns aproveitavam para igualmente travar conhecimento com os seus semelhantes, outros deitavam-se no chão, muito pachorrentos. Se se revelavam inquietos, com algum balançar do ferry, logo uma mão humana, fosse de adulto ou de criança, se apressava a afagá-los. Porque a mão daqueles em quem o cão confia funciona como um calmante.
Cães pacíficos, sociabilizados. Não lhes fazia qualquer tipo de impressão encontrarem-se num espaço fechado, junto com uma multidão de desconhecidos e outros cães. Sabiam perfeitamente como se deviam comportar. Alguns donos até largaram a trela, depois de os cães se terem deitado, ao lado ou por baixo das suas cadeiras. Senti-me muito bem, naquela harmonia entre humanos e caninos. É difícil exprimir em palavras a paz que se sente, num situação dessas. Muita gente se escandaliza, quando se fala em considerar cães e gatos como membros da família. Mas só assim se consegue a integração perfeita, capaz de gerar momentos como aquele.
A nossa Lucy também não nos deixou mal e logo estabeleceu amizade com a cadela da senhora com quem conversámos ;-)
Não tenho fotografias da travessia, mas bastantes dessas férias e hei de publicar aqui algumas.
Os alemães são vistos como um povo ordeiro e disciplinado, mas não há regra sem exceção. O exemplo mais flagrante é o de Mallorca, local de férias para milhões de alemães. A própria comunidade alemã, nesta ilha espanhola, é enorme e organizam-se festas e orgias, em que se embebedam até à inconsciência. Outra exceção é a noite de Ano Novo, em que o alemão mais pacato se transforma num verdadeiro piromaníaco!
Enfim, sejamos coerentes: um bom fogo de artifício pertence a um reveillon que se preze. Mas o que se passa na Alemanha, nessa noite, supera todas as expectativas. Gastam-se cerca de cento e cinquenta milhões de euros (repito: cento e cinquenta milhões!) em foguetes, rojões e quejandos. Note-se que o lançamento de fogo de artifício não se encontra nas mãos das autarquias ou de empresas que organizam reveillons. Qualquer cidadão é autorizado a adquirir material pirotécnico, em qualquer supermercado.
Estabelece-se um dia para o início da venda, este ano foi no sábado, 28 de dezembro. Não será necessário dizer que a maior parte das pessoas se sentem incapazes de esperar pela meia-noite do dia 31. Durante três ou quatro dias, as explosões, os petardos e o assobio dos foguetes passam a fazer parte do quotidiano e sair à rua pode tornar-se num sobressalto. Os estrondos vão aumentando de intensidade, até culminarem numa verdadeira orgia, na noite de passagem de ano. E, a 1 de janeiro, as ruas das cidades e das localidades alemãs têm o aspeto da imagem seguinte:
Enfim, cada um tem o direito de se divertir como quiser. Mas toda esta euforia tem o seu preço. E não estou apenas a falar dos milhões de euros que chegariam para deixar os reformados e pensionistas portugueses em paz. Verificam-se sempre acidentes e incêndios, por vezes, até mortes. Por isso, muita gente é contra este hábito e há proibições, como não se poder usar o fogo de artifício em certos locais. Mas não são respeitadas. Além de não haver pessoal suficiente na Polícia para vigiar todas as infrações, há muita tolerância (a tal conversa das tradições).
Embora o meu marido e eu nos recusemos a gastar um cêntimo que seja neste tipo de material, o barulho não nos incomoda. O mesmo já não se pode dizer da nossa cadela. Cães e gatos, em geral, entram em verdadeiro stress, que vai do ligeiro medo ao pânico total. Também outros animais, inclusive nos zoos, têm problemas. Li, por exemplo, sobre espécies de pássaros tropicais, no zoo de Hamburgo, que são metidos em salas à prova de som, pois entram num pânico tal, que chegam a morrer de ataque cardíaco. Para outros, acendem-se todas as luzes e holofotes do zoo, a fim de que não se assustem com os clarões dos foguetes.
No início, a Lucy ficava mais ou menos calma, mas tem vindo a piorar com a idade. E nós assustamo-nos, quando a vemos a tremer e a arfar horas e horas seguidas, sem comer, nem sequer fazer as necessidades (passa um dia inteiro assim). Como completou dez anos no Outono (o que, para um cão, já começa a ser uma idade respeitável), resolvemos, este ano, poupá-la ao stress. Foi essa a razão que nos levou à ilha Föhr, já que se dizia que nas ilhas do Mar do Norte há apenas uma sessão de fogo de artifício, oficial, na maior localidade, à meia-noite.
Constatámos que não é bem assim. Mas foi, de qualquer maneira, muito mais sossegado do que no continente. Conto mais pormenores num próximo post.
O ano novo trouxe a Letónia para o euro. É o 18º membro do clube da Srª Merkel...
E a Grécia para a presidência da União Europeia. Não deixa de ter alguma graça, esta entrada do 2014!
Ontem na televisão, pelas 21 horas, assim que na RTP1 ia começar "O regresso da Múmia" mudei imediatamente para o "Avatar".
O 2711 deseja a todos os que por aqui passam, que nos lêem, comentam, que nos insultam, que se deslumbram com a nossa modesta genialidade, um bom 2711... perdão, 2011.