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Primeiro, foram os maquinistas, uma greve que se prolongou por dois meses, com interrupções pelo meio (vá lá). Mas havia blocos de quatro ou cinco dias de greve seguidos, pondo os utentes dos comboios alemães muito mais do que à beira de um ataque de nervos.
Depois, foram os educadores infantis (digo no masculino, pois, embora poucos, há alguns homens nesta profissão). A greve também se alongou, sem solução à vista, um bico de obra para os pais, que não sabiam o que fazer aos rebentos, a fim de poderem ir trabalhar. O conflito está longe de ser resolvido, mas meteram-se uns mediadores, a fim de facilitarem as negociações entre o sindicato e a entidade patronal (neste caso, as autarquias) e, num caso destes, é proibido fazer greve.
Agora, são os Correios. Por tempo indeterminado! Começou ontem, sendo a adesão ainda pouca. Mesmo assim, ficaram cerca de sete milhões de cartas por entregar ao destinatário. Prevê-se que, à medida que a greve avance, haja cada vez mais adesões. Receia-se o caos.
Aparência nº 1 destruída:
- no país da Merkel, nem tudo são rosas
Aparência nº 2 destruída:
- digam o que disserem, o correio tradicional ainda tem um peso enorme na sociedade
Este achado, que os peritos calculam ter cerca de 450 anos, é descrito como um dos mais espetaculares dos últimos tempos, na cidade alemã de Stade.
Com os seus 45 000 habitantes, Stade é, no cenário alemão, uma cidade pequena, ensombrada pela grandeza de Hamburgo, a cerca de 50 km de distância. Quando foi criada, no século X, porém, Hamburgo ainda não existia e Stade foi, durante toda a época medieval, bem mais importante do que aquela onde, hoje, se situa um dos maiores portos do mundo.
Situada nas margens do rio Schwinge, muito próximo do local onde este desagua no Elba, Stade foi uma cidade hanseática, o que se traduzia numa grande atividade mercantil com as zonas do Mar do Norte e do Mar Báltico. Por isso, a importância deste achado: os arqueólogos surpreenderam-se ao constatar que as ligações comerciais de Stade se estendiam até Portugal! E penso que será de interesse também para o nosso país.
Desde o Outono que se verifica grande atividade arqueológica, na cidade-natal do meu marido e onde vivemos há quase quinze anos (antes disso, vivíamos em Hamburgo). Uma ponte situada no centro histórico necessitou de reparações. Procedeu-se à secagem do rio Schwinge nesse local, onde se situava o porto, o que não foi difícil, pois com o tempo e o crescimento da cidade, o rio tornou-se muito estreito e raso. Basta um paredão de sacos de areia para evitar que a zona torne a alagar.
Todos sabemos que a lama e o lodo existente no fundo do leito dos rios são excelentes meios de conservação. Por isso, os arqueólogos esfregaram as mãos de contentamento. As obras de reparação da ponte foram adiadas até terem explorado todo aquele local. Os trabalhos têm sido tão frutíferos (cerca de 300 000 achados, até agora!) e ainda há tanta lama e lodo para analisar, que as obras foram de novo adiadas por mais seis meses. Assim é que é, a cultura à frente!
A importância da moeda de ouro portuguesa é indiscutível, mas os arqueólogos exultam com qualquer tipo de objeto, como uma simples colher, que tanto pode dizer sobre o modo de vida de outros tempos.
Muito dos achados serão expostos num dos museus da cidade, ali mesmo perto daquela zona. E eu hei de ir lá ver a moeda portuguesa!
Uma das boas surpresas, na nossa viagem a Föhr, uma ilha no Mar do Norte, perto da fronteira entre a Alemanha e a Dinamarca, aconteceu logo no ferry-boat. Constatámos que não éramos os únicos a querer poupar o nosso animal de estimação ao stress da orgia pirotécnica de fim de ano. O ferry estava cheio de pessoas com os seus cães.
O tempo estava agreste. Apesar das temperaturas positivas (entre os 5 e os 8 graus) soprava um vento fortíssimo e gélido, que metia qualquer nortada portuguesa num bolso. Além disso, iniciámos a travessia pelas 16h 30m, ou seja, já escurecera. Não eram condições convidativas a uma permanência ao ar livre. Nos carros, também não era confortável, com os motores desligados, logo arrefeciam. Por isso, os passageiros encaminharam-se para o bar-restaurante do ferry, que, além de ser abrigado do vento, estava aquecido, claro.
Levámos a nossa Lucy connosco, não a queríamos deixar sozinha no carro frio. E foi quando deparei com algo que, admito, me comoveu: toda a gente assim agiu! Fossem pessoas sozinhas, ou famílias completas, com crianças de todas as idades (desde bebés a adolescentes), todos levavam os seus cães pela trela.
Centenas de pessoas sentaram-se no confortável bar-restaurante, iniciaram-se conversas com vizinhos de mesa que não conhecíamos. E os cães ao lado. Cães bonitos, bem tratados, sem qualquer tipo de cheiro, de pelo a luzir e olhos meigos, brilhantes, felizes. Alguns aproveitavam para igualmente travar conhecimento com os seus semelhantes, outros deitavam-se no chão, muito pachorrentos. Se se revelavam inquietos, com algum balançar do ferry, logo uma mão humana, fosse de adulto ou de criança, se apressava a afagá-los. Porque a mão daqueles em quem o cão confia funciona como um calmante.
Cães pacíficos, sociabilizados. Não lhes fazia qualquer tipo de impressão encontrarem-se num espaço fechado, junto com uma multidão de desconhecidos e outros cães. Sabiam perfeitamente como se deviam comportar. Alguns donos até largaram a trela, depois de os cães se terem deitado, ao lado ou por baixo das suas cadeiras. Senti-me muito bem, naquela harmonia entre humanos e caninos. É difícil exprimir em palavras a paz que se sente, num situação dessas. Muita gente se escandaliza, quando se fala em considerar cães e gatos como membros da família. Mas só assim se consegue a integração perfeita, capaz de gerar momentos como aquele.
A nossa Lucy também não nos deixou mal e logo estabeleceu amizade com a cadela da senhora com quem conversámos ;-)
Não tenho fotografias da travessia, mas bastantes dessas férias e hei de publicar aqui algumas.
Os alemães são vistos como um povo ordeiro e disciplinado, mas não há regra sem exceção. O exemplo mais flagrante é o de Mallorca, local de férias para milhões de alemães. A própria comunidade alemã, nesta ilha espanhola, é enorme e organizam-se festas e orgias, em que se embebedam até à inconsciência. Outra exceção é a noite de Ano Novo, em que o alemão mais pacato se transforma num verdadeiro piromaníaco!
Enfim, sejamos coerentes: um bom fogo de artifício pertence a um reveillon que se preze. Mas o que se passa na Alemanha, nessa noite, supera todas as expectativas. Gastam-se cerca de cento e cinquenta milhões de euros (repito: cento e cinquenta milhões!) em foguetes, rojões e quejandos. Note-se que o lançamento de fogo de artifício não se encontra nas mãos das autarquias ou de empresas que organizam reveillons. Qualquer cidadão é autorizado a adquirir material pirotécnico, em qualquer supermercado.
Estabelece-se um dia para o início da venda, este ano foi no sábado, 28 de dezembro. Não será necessário dizer que a maior parte das pessoas se sentem incapazes de esperar pela meia-noite do dia 31. Durante três ou quatro dias, as explosões, os petardos e o assobio dos foguetes passam a fazer parte do quotidiano e sair à rua pode tornar-se num sobressalto. Os estrondos vão aumentando de intensidade, até culminarem numa verdadeira orgia, na noite de passagem de ano. E, a 1 de janeiro, as ruas das cidades e das localidades alemãs têm o aspeto da imagem seguinte:
Enfim, cada um tem o direito de se divertir como quiser. Mas toda esta euforia tem o seu preço. E não estou apenas a falar dos milhões de euros que chegariam para deixar os reformados e pensionistas portugueses em paz. Verificam-se sempre acidentes e incêndios, por vezes, até mortes. Por isso, muita gente é contra este hábito e há proibições, como não se poder usar o fogo de artifício em certos locais. Mas não são respeitadas. Além de não haver pessoal suficiente na Polícia para vigiar todas as infrações, há muita tolerância (a tal conversa das tradições).
Embora o meu marido e eu nos recusemos a gastar um cêntimo que seja neste tipo de material, o barulho não nos incomoda. O mesmo já não se pode dizer da nossa cadela. Cães e gatos, em geral, entram em verdadeiro stress, que vai do ligeiro medo ao pânico total. Também outros animais, inclusive nos zoos, têm problemas. Li, por exemplo, sobre espécies de pássaros tropicais, no zoo de Hamburgo, que são metidos em salas à prova de som, pois entram num pânico tal, que chegam a morrer de ataque cardíaco. Para outros, acendem-se todas as luzes e holofotes do zoo, a fim de que não se assustem com os clarões dos foguetes.
No início, a Lucy ficava mais ou menos calma, mas tem vindo a piorar com a idade. E nós assustamo-nos, quando a vemos a tremer e a arfar horas e horas seguidas, sem comer, nem sequer fazer as necessidades (passa um dia inteiro assim). Como completou dez anos no Outono (o que, para um cão, já começa a ser uma idade respeitável), resolvemos, este ano, poupá-la ao stress. Foi essa a razão que nos levou à ilha Föhr, já que se dizia que nas ilhas do Mar do Norte há apenas uma sessão de fogo de artifício, oficial, na maior localidade, à meia-noite.
Constatámos que não é bem assim. Mas foi, de qualquer maneira, muito mais sossegado do que no continente. Conto mais pormenores num próximo post.
Pela primeira vez, a Alemanha tem uma mulher à frente da pasta da Defesa. Ursula von der Leyen, de 55 anos, acompanha Merkel desde o início. Na primeira legislatura, entrou para o executivo como Ministra da Família, passando, na segunda, a Ministra do Trabalho. E muita gente já se pergunta onde irá ela parar, insinua-se que poderá fazer concorrência à própria Merkel.
Não deixa de ser interessante falar-se de uma Ministra da Defesa. É, pelo menos, uma novidade, já que, quanto ao resto...
Adenda: Embora, na primeira versão deste post, eu dissesse que este caso talvez fosse inédito a nível europeu, apurei, entretanto, que, entre os países da NATO, já a França, a Suécia e a Holanda tiveram Ministras da Defesa.
Quase mês e meio depois das eleições a Alemanha continua sem governo. Há semanas que a próxima é sempre a decisiva...
Ai se isto fosse em Itália... O que é que a imprensa internacional não diria?
Mas não é. É na Alemanha. E é Merkel... O respeitinho é uma coisa muito bonita...
Depois de ter visto o programa sobre o desaparecimento de Maddie, na ZDF, que incluiu uma reconstituição do dia em que a criança desapareceu e uma entrevista ao vivo, no estúdio, com os pais e um inspetor da Scotland Yard, cheguei a duas conclusões (meramente pessoais):
1- Os pais foram negligentes
2- Não me parece que estejam envolvidos no desaparecimento (ou morte) da filha.
Verdade seja dita: a ZDF cumpriu o seu papel de canal estatal e apresentou os factos de forma imparcial. Em nenhum momento, se criticaram os resultados apresentados pela polícia portuguesa, nem o facto de os próprios McCann terem sido declarados arguidos.
E porque é que os McCann foram negligentes? Porque deixaram as três crianças sozinhas num apartamento, cuja porta de acesso ao terraço, envidraçada e de correr, não se podia trancar por fora! Outra coisa que me pareceu estranha, na reconstituição apresentada, foi que, das três vezes que alguém foi ver se estava tudo bem com as crianças, deu com a porta do quarto delas mais aberta do que o se tinha deixado. Quando os pais saíram, deixaram apenas uma nesga aberta. No primeiro controle, pelo pai, este surpreendeu-se por essa porta se encontrar mais aberta do que o que deixara e tornou a quase fechá-la. O segundo controle, na minha opinião, problemático, foi feito por um amigo do casal, que jantava com eles, e que pretendia controlar os próprios filhos, deixados nas mesmas condições, noutro apartamento. Esse indivíduo não controlou todas as camas dos McCann, nem sequer entrou no quarto das crianças. Recordemos que estava escuro. E ele contentou-se com o facto de estar tudo sossegado, apesar de achar estranho que a porta do quarto estivesse escancarada. Ele próprio tê-la-á fechado, a ponto de deixar a tal nesga. Mas estaria Maddie ainda no apartamento?
O terceiro controle foi feito pela mãe. Também estranhou a porta do quarto das crianças estar escancarada! E, ao querer entrar no quarto, a porta bateu-se-lhe defronte do nariz, movida por uma corrente de ar. Ao tornar a abri-la, constatou que a janela do quarto estava aberta e as persianas puxadas para cima (não as tinha deixado assim). Logo ficou nervosa, algo de estranho se passava. Constatou que a cama de Maddie estava vazia e entrou em pânico.
Enfim, recordemos que esta reconstituição terá sido feita com os testemunhos dos próprios pais e das pessoas que os acompanhavam. Mas o assunto estava praticamente esquecido. Se eles tivessem culpa no cartório, porque insistem em chamar as atenções?
A criança foi, provavelmente, raptada. Mas não acredito que esteja viva.
Hoje, na Alemanha, fervilha-se com o caso Maddie. Os pais e um investigador da Scotland Yard vão estar, ao serão num programa da ZDF. Aktenzeichen XY, assim se chama, caracteriza-se por tratar de crimes não resolvidos. É um programa de muita audiência, há mais de duas décadas, em que os casos são encenados, com atores, na esperança de que alguém tenha presenciado alguma cena e se lembre de algum detalhe que seja útil para a investigação. São postas linhas telefónicas à disposição, diretamente para os estúdios.
Hoje, far-se-á a reconstituição do dia em que Maddie desapareceu (como num filme). E os pais serão entrevistados, em estúdio, pelo apresentador Rudi Cerne. O motivo será o facto de os novos suspeitos terem, possivelmente, falado alemão (pelo menos, na opinião de supostas testemunhas).
Nem sei o que pensar de tudo isto. E penso que aí, em Portugal, a maior parte das pessoas também não. Deparei hoje com uma notícia online (em alemão), que refere que os portugueses não se interessam pelo retomar das investigações e que o ex-PJ Gonçalo Amaral considera tudo uma operação publicitária, a fim de confundir o público.
Tanto barulho por nada? Mas o que terá acontecido à criança? Viremos, algum dia, a saber?
Pois é, Cristina, mas a dona Merkel lá venceu e por maioria. Na realidade os portugueses não queria que a chanceler perdesse. Sim, os portugueses, pelo menos uma maioria, queriam que a senhor Merkel fosse apanhar morangos para muito longe (como se diz na minha terra).