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Há coisas que têm um valor absoluto. Valem o que valem pelo que realmente valem e não pelo que parecem valer. Outras, pelo contrário, valem mais pelo que parecem. Não é o que realmente valem que conta, mas o que representam.
Vem isto a propósito de uma das notícias do dia, que dá Portugal na quinta posição na tabela dos países mais corruptos. À sua frente, na listas dos mais corruptos, apenas Croácia, Quénia, Eslovénia e Sérvia. Logo atrás, mas ainda assim menos corruptos, Índia e Ucrânia.
Olhamos para isto e todos temos a convicção que não bate certo. Que a corrupção não é maior em Portugal que na Ucrânia. Ou que em Angola, ou que na generalidade dos países africanos. Vamos ler melhor a notícia e percebemos que essa lista resulta de um inquérito a trabalhadores dos diversos países levado a cabo pela consultora Ernest & Young. Percebemos que não resulta de um corruptómetro qualquer, mas apenas da percepção que as pessoas, neste caso os trabalhadores, têm sobre os níveis de corrupção nas suas empresas.
E voltamos ao princípio: não estamos perante um valor absoluto, medido por um qualquer corruptómetro, seja lá isso fôr, mas perante uma percepção da coisa. Não pelo que é mas pelo que parece que é!
Ora, a corrupção é em si mesma o maior cancro de uma sociedade. Mas a percepção que dela a sociedade tem é bem mais devastadora, capaz até de destruir uma civilização. É por isso que pouco importa se a Ucrânia, ou um qualquer país africano, é mais corrupto que o nosso. Importa, evidentemente que sim, se o inquérito tem algum tipo de valor científico e se, em razão disso, o destaque dado à notícia é jornalisticamente sério. Importa até que o rigor da notícia seja aqui bem maior do que na anterior.
Mas a corrupção não deixa de ser corrupção conforme é praticada nos gabinetes das empresas ou nos da administração pública. Corrupção é corrupção, onde quer que seja. E o que realmente conta é que há portugueses convencidos que vivem num país mais corrupto que a Ucrânia. O que é verdadeiramente dramático é que haja portugueses com a ideia que o seu país é mais corrupto que uma qualquer cleptocracia africana. Que essa ideia lhe seja transmitida pela própria empresa onde trabalham só agrava ainda mais a dimensão do problema. Porque o torna mais próximo, mais sentido e mais percepcionado. Porque, aí, o que parece, é. Percepção e realidade estão sobrepostas...
E isso é o fim da linha!