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865 Anos da Conquista de Santarém (1)

por Cristina Torrão, em 15.03.12

Ser um carvalho quase milenário e ter assistido aos acontecimentos da madrugada de 14 para 15 de Março de 1147:

 

"Eu sou um ser que vive, entenda-se. Os meus braços alimentam outros seres viventes e dão sombra a quem se senta no meu colo. Um carvalho pode ser um grande amigo, a quem confiam os seus segredos. As crianças em meu redor são a energia que me aquece e as juras gravadas no meu tronco, memórias antigas.

Entre elas, a daquele dia: nada se sentia no ar, nada do que estava para acontecer. O frio cortante do fim de tarde cobria o som dos cascos de cavalos a chegar a Santarém.

À noite, do alto da minha copa, vi três vultos a aproximarem-se das muralhas com uma escada enorme; a partir daí os dados estavam lançados…O estranho neste ataque era o mudo entendimento entre pares. A camaradagem entre os cavaleiros e o rei era a força por detrás da razia, que parecia fulminante.

No final, a lua, minha companheira, tão testemunha do massacre como eu, escondeu-se e com ela foram-se os gritos, os medos e os ódios deixados para trás. Em cada pedra das muralhas um lamento se gravou, e na bandeira então içada, ondulavam as cores da vitória!

A euforia dos novos amos alimentou-se do mito de tesouros escondidos e neste planalto mirante de grandes e férteis planícies, a vida ergueu-se novamente como os novos rebentos da Primavera.

Mesmo passado 865 anos, este episódio continua presente em mim. A conquista de Santarém fez-se por pessoas comuns que ousaram dar liberdade aos seus sonhos, mas o código de honra dos cavaleiros foi ignorado e, em vez disso, a força invisível que eu senti, naquela madrugada de 15 de Março, tornar-se-ia o prenúncio de uma identidade futura, cujas raízes se cravavam na terra funda."

 

Ana Sofia Allen

11/03/2012

 

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1 comentário

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De Daniel João Santos a 15.03.2012 às 19:43

muito bem. Gostei da forma diferente de contar a história.

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