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Entendimento Europeu

por Cristina Torrão, em 03.05.11

 

O jornalista, tradutor e escritor austríaco Martin Pollack ganhou, na Feira do Livro de Leipzig, em Março passado, o Leipziger Buchpreis zur Europäische Verständigung, em inglês Leipzig Book Prize for European Understanding.

Martin Pollack vem de uma família nazi, o seu pai foi chefe das SS e da Gestapo, em Linz, responsável por inúmeras barbaridades, os seus avós eram nazis militantes. Como se vive com uma herança tão pesada? Como arcar com uma culpa que nos deixaram?

À semelhança de Sebastián Marroquín (embora num contexto totalmente diferente) Martin Pollack decidiu assumir as suas responsabilidades, com o objectivo de evitar a repetição dos erros do passado. Dedicou-se ao estudo da língua e da cultura polacas, assim como das línguas eslavas. Na sua carreira de tradutor e escritor, estabelece pontes com a Europa de Leste, tentando neutralizar ódios que ainda existem, uma missão que cumpre há trinta anos.
 

Martin Pollack escreveu, em 2004, um livro sobre o seu pai, o chefe nazi, expondo os crimes, pelos quais ele se envergonha. Numa entrevista, afirma que devemos olhar em frente, construir o futuro, mas, para isso, é importante superar o passado. Isso não significa, porém, pôr um tapete em cima do que aconteceu, fazendo de conta que não foi nada.
 
Nas suas próprias palavras (tradução minha): “Temos de pôr as cartas em cima da mesa, contar as histórias. Mesmo quando elas são extremamente dolorosas, ou nos fazem corar de vergonha. Na minha opinião, o entendimento só acontece, quando falamos e lidamos abertamente uns com os outros, olhando-nos nos olhos, ao mesmo nível.”
 
A história da nossa vida inicia-se antes do nosso nascimento. Todos nós temos uma herança, boa ou má. A diferença está no que cada um de nós faz com ela.

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5 comentários

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De manuel gouveia a 03.05.2011 às 20:55

Tenhamos isso sempre em mente.
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De Daniel João Santos a 03.05.2011 às 21:41

excelente texto. Excelente "moral" da história.
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De analima a 04.05.2011 às 00:42

Interessante esta questão. Lembrou-me um óptimo livro, de um autor espanhol, Ricardo Menéndez Salmón , "A Ofensa". A última frase faz todo o sentido. Mas a verdade é que deve ser extremamente difícil viver com um passado desses mesmo que não se tenha tido qualquer papel nele. E no contexto em que Martin Pollack viveu já foi certamente mais fácil. Um exercício interessante seria pensar qual seria a sua posição se a História da Europa tivesse sido favorável às ideias dos seus pais e avós.
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De Cristina Torrão a 04.05.2011 às 12:31

É verdade, Ana. O que seria da Europa, se... Nem é bom pensar.

Nem toda a gente se sente culpada pelo que os seus antepassados imediatos fizeram, no fundo, mal podemos responder por aquilo que aconteceu numa altura em que, ou ainda não tínhamos nascido, ou não tínhamos idade suficiente para interferir. O que eu acho importante é que não se neguem certos factos. Uns terão mais dificuldade em lidar com eles, do que outros. Mas, quanto mais dificuldades tivermos, quanto maior for o sentimento de culpa, mais nos devemos ocupar com o que nos incomoda. Acaba por melhorar a nossa saúde mental. E pode contribuir para um melhor entendimento com os outros, como neste caso.

Obrigada pela sugestão de leitura.
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De analima a 05.05.2011 às 01:03

Tens razão, claro. O importante é não esquecer e poder daí tirar os ensinamentos necessários. Quanto ao livro trata-se da história de um jovem alemão e das suas reacções ao facto de se ter visto obrigado a participar, enquanto soldado, na guerra. Não tendo exactamente a ver com esta questão é um livro muito bem escrito e que vale a pena ler.

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