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Um fervor de paixão tomou conta dele: o seu dinheiro, o seu poder de pagar, dar, influenciar, deveriam ser suficientes. Marralhava pelo abraço, pelo beijo, pela escalada do desejo. Primeiro implorou, depois pediu, mais tarde exigiu, finalmente obrigou. Não pedia muito. Não obrigava a nada de mais. Tinha dado tanto. E tanto era caro. Só o amor do outro, um moço, em tudo aquiescente, a todas as coisas satisfeito, e cada vez mais encurralado. «Tens de passar por ambíguo se quiseres singrar, meu filho!» — sussurara a um o Diabo e a outro: «Podes ter tudo o que quiseres dele, se o obrigares a prostar-se no pó e pelo pó.» O Diabo era porreiro e sabia o que dizia e mais ainda o que fazia. Sim, passaram a discutir numa negociação interminável, um por liberdade, talvez dinheiro, talvez consequências da amizade entabulada como uma conversa objectiva, dá-me isso, dar-te-ei aquilo. Derreado, arriscando petiscar daquelas carnes ingénuas, moldáveis, delas sequioso e esfomeado, o mais velho avançava, sentia uma infinita vaidade por ter, quase ter, quase-ter tido aquilo, o moço, como cão de raça levado a passear, como casaco de peles vistoso, Rolex lustroso, para os quais os pescoços volteiam e cabeças meneiam. O outro, quase seu cão, quase seu casaco, quase seu Rolex, simplesmente fugia, fingia hesitações, quando tinha certezas diferentes, seis meses depois, imobilizando-se rígido em arco de asco. Se pudesse, treparia as paredes para longe daquilo, mas não sabia o caminho. Na última refrega, contundiu-o até que cessasse, desligasse. E desligou-o. Juntou-se a morte à vontade de morrer fosse da morte pequena fosse da única e irremediável.