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por Daniel João Santos, em 23.03.16

 

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Sintomático

por Eduardo Louro, em 15.02.16

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António Costa entendeu por bem começar a comunicar directamente com os portugueses. Escolheu por meio o vídeo, e as redes sociais como forma. São já conhecidos dois desses vídeos onde, pausada e tranquilamente, o chefe do governo começa por explicar o contexto do OE 2016 e algumas das suas medidas.

Como não poderia deixar de ser, ouviram-se já as mais disparatadas reacções a esta iniciativa. A começar por gente da comunicação, onde houve até quem viesse compará-la às “conversas em família”, de Marcelo Caetano, que nos deixa sempre na dúvida se é ignorância ou simples má-fé. 

Nada contra, por princípio (mesmo reconhecendo alguns riscos), que os mais altos dirigentes do país se dirijam directamente aos cidadãos. Nos tempos que correm, na sociedade da comunicação em que vivemos, isso é cada vez mais normal. E quem o fizer bem, sem manipular conteúdos e meios, sem cassete e sem poluição (os riscos estão aqui), está apenas com os pés bem assentes no presente.

António Costa não está com isto a pretender pôr um pé no futuro. Nem sequer me parece que tenha acordado de uma visão revolucionária. António Costa apenas percebeu o que toda a gente também já percebeu: que não encontra mensageiros na comunicação social, que os media deixaram de ser um intermediário isento e sério da comunicação. Que não passa o que disser, mas o que quiserem fazer passar que disse...

Sempre dado por ter boa imprensa, como um dos políticos com melhores relações pessoais no meio, António Costa não seria certamente a pessoa mais vocacionada para fazer esta ponte, e passar por cima do velho instituto das democracias que é a comunicação social. É por isso ainda mais sintomático que o tenha feito!

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O regresso de Schäuble

por Eduardo Louro, em 12.02.16

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Os mercados - ei-los de novo - estão nervosos. E terão razão para isso: por todo o mundo as bolsas caem e os rumores de novas bolhas prontas a rebentar sucedem-se. Na Europa as coisas não estão melhor, antes pelo contrário. Em Espanha - sem governo, nem solução à vista - o IBEX (o índice bolsista da Bolsa de Madrid) já caiu, este ano, mais de cem milhões de euros. Em França, a Societé General, o maior banco francês, afunda-se. E, the last, not the least, nos mercados ninguém acredita na solvência do Deutsche Bank. Isto é, também a poderosa e irrepreensível Alemanha está a assistir ao colapso do seu maior banco.

Não são, pois, poucas as razões de susto para os mercados. Reparo, com surpresa, que nenhuma tem o que quer que seja a ver com Portugal. Alguma coisa me deve ter falhado, porque Herr Schäuble, o visionário ministro das finanças alemão, para gáudio dos seus admiradores em Portugal - na primeira linha dos quais está Passos Coelho, que até já aproveitou a maré - gritou bem alto, e com o habitual dedo (torto) em (pouco) riste, que "Portugal não pode continuar a perturbar os mercados".

É isto a Europa de Schäuble e da direita míope que a está a destruir. Não há qualquer problema económico numa economia que há anos está estagnada e que não encontra saída para o crescimento. Não há problema social que tire o sono a ninguém, quando o desemprego continua sem solução. Não há problemas políticos para resolver em lado nenhum, quando valores democráticos - fundamentos da integração e condição indispensável à adesão - estão postos em causa nalguns países membros. Não há nenhum problema no seu sistema financeiro, quando os seus maiores bancos começam a dar maus sinais. Não há qualquer problema com Schengen. Não há problemas com a Inglaterra. Não há problemas com os milhões de refugiados que estão a entrar pelas suas fronteiras dentro. Não há qualquer problema que regiões do globo estejam a ser destruídas, e a alimentar o infindável surto de refugiados que de lá são obrigados a fugir.

Problema, problema sério, é Portugal. Só porque a maioria dos eleitores disse que a receita do Sr Schäuble, aplicada durante quatro anos, e ao contrário do que ele continua cegamente a garantir, não funcionou. E que, por isso, tinha de ser abandonada!

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Ora aí está!

por Eduardo Louro, em 05.02.16

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Percebeu-se que algum travão foi posto nas intenções mais agressivas que os mangas de alpaca de Bruxelas apontavam ao Orçamento de Estado, que hoje lhes será entregue. Diz quem sabe que António Costa fez uma espécie de trade off com um ligeiro e bem burilado fundo de ameaça. Em bom português seria mais ou menos assim: se chateiam muito lixo-vos esse negócio com os ingleses. E siga para Brexit. Não exactamente neste bom e escorreito português, mas na mais arrevesada e conveniente linguagem diplomática.

Entre quem sabe - e quem o diz - está Wolfgang Münchau, o influente jornalista de negócios alemão, que aplaude a forma discreta e eficaz como António Costa soube diplomaticamente mostrar a força que, em determinadas conjunturas, se tem. E acrescenta mesmo que estranho é que os países da Europa do Sul tenham demorado tanto em "defender os seus próprios interesses." 

Ora aí está!

 

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Parece que o PSD está a tentar acertar o passo e corrigir os desvios dos últimos anos. Se assim é, saúdo vivamente a inflexão, que poderá voltar a cativar muita gente que deixou de se rever na deriva liberal populista do partido, capturado num aparelho de interesses dirigido por gente pouco estimulante, para não dizer outra coisa. 

É tempo disso, de regresso à matriz social-democrata. A eleição de Marcelo - mais que a eleição, a forma como foi construída -, por uma lado, e a entrega do CDS ao seu próprio destino - "bem entregue", como se vai vendo pelo discurso de Cristas - constituem a oportunidade para a reconciliação do partido com as ideias da social democracia e para a recuperação de algumas das suas mais produtivas élites.

O problema é fazer isto com as mesmas pessoas. A dificuldade está em acreditar que  quem vai tirar o partido daqui sejam os mesmos que lá o meteram. Pois é: a oportunidade está aí, mas o oportunismo também... 

 

* A expressão até pode ser minha, mas a ideia já nos foi deixada por Agostinho da Silva há muitos, muitos anos.

 

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Vem aí complicação

por Eduardo Louro, em 20.01.16

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O governo prepara-se para aprovar, amanhã em conselho de ministros, o draft do Orçamento de Estado para este ano, a enviar de seguida à consideração de Bruxelas.

E as coisas não estão fáceis, longe disso. A insistência de António Costa na quadratura do círculo já o o deixava prever, só que o Banif tornou tudo muito mais difícil. Arredondou muitos mais as curvas e acentuou ainda mais os ângulos rectos...

Não vão ser fáceis os tempos que aí vêm, para gáudio da direita que gosta de se olhar ao espelho. Que já vai fazendo a festa, na transversal lógica portuguesa do quanto pior, melhor. Anuncia a visita da troika (na próxima semana, como previsto e programado) como se de um regresso se tratasse. Prevê até com evidente deleite um novo resgate. E antecipa a quebra de confiança dos mercados - cria o lobo, e grita que ele vem aì ... - como quem quer acordar monstros adormecidos.

Vem aí complicação. Ai vem, vem...

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Obviamente... demita-se!

por Eduardo Louro, em 14.01.16

 

Depois do que fez - e não fez - com o BES e com o Banif, e dos milhares de milhões que tudo isso custou, custa e vai continuar a custar aos portugueses, o governo de Passos Coelho, há poucos meses e em cima das eleições, reconduziu Carlos Costa na governação do Banco de Portugal. Desde então, falhou a venda do Novo Banco, fez explodir o Banif e, para capitalizar o Novo Banco, não hesitou em deitar a mão a dois mil milhões de obrigações seniores detidas por investidores institucionais, decisão estrategicamente muito arriscada, para não dizer completamente errada, e de duvidosa legalidade, para não dizer muito provavelmente ilegal, como aqui se deu conta no final do ano passado.

Claro que os atingidos não acharam graça nenhuma à brincadeira e, primeiro que tudo - quer dizer, primeiro que a inevitável litigância, ameaçam não financiar mais bancos portugueses, com sérios riscos de o mercado fechar as portas à banca nacional.

Admitia-se, e outra coisa não era de esperar, que tinha sido uma decisão concertada com o governo e respaldada no BCE. Nada disso: primeiro - mas mesmo assim tarde, apenas depois das reacções internacionais  - foi o governo a vir dizer que estava frontalmente contra a medida; e logo depois o BCE veio deixar claro que não apoiou aquela decisão, remetendo-a para a exclusiva responsabilidade do Banco de Portugal.

Como - a não ser em condições muito excepcionais, que nem a excepcional gravidade das asneiras de Carlos Costa contemplam - não se pode demitir o governador do Banco de Portugal, tem que ser o governador do Banco de Portugal a demitir-se. Obviamente... demita-se Sr Carlos Costa! Sabemos que se ganha muito bem, bem mais que o congénere americano, mas também sabemos que as reformas do Banco de Portugal não são nada más... 

 

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Padrinhos

por Eduardo Louro, em 12.01.16

Resultado de imagem para marcelo rebelo de sousa e marcelo caetano

 

 

É curioso que ainda ninguém se tivesse lembrado que Marcelo se baldou à tropa. Que só agora o tema seja assunto. Normal, à época.

Não que fosse normal, na altura, escapar à guerra colonial. E muito menos à tropa, que sendo a mesma coisa, mas não era bem a mesma coisa... Toda a gente lá ia bater com os costados, sem apelo nem agravo. A não ser que desertasse. Ou que tivesse padrinhos...

E aí está. O que não faltava - não falta, nem nunca faltou - a Marcelo foi padrinho. Nem percebo porque se fala tanto do pai, simples ministro do Ultramar...

Mas, como bem se sabe, isso aqui não interessa nada. Lá para a América é que têm a mania de levar estas coisas a peito...

 

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Maratona de debates presidenciais

por Eduardo Louro, em 04.01.16

 

 

Não sei - não faço mesmo ideia - como o país real está a seguir esta maratona de debates presidenciais com que o novo ano abriu. Admito que com grande indiferença!  Provavelmente com a indiferença do costume, que nem o mau tempo que certamente prendeu mais as pessoas por casa, conseguiu contariar. Também, com alguma probabilidade, com a indiferença que o excesso provoca: uma tamanha dose diária de debates só não afasta quem, por dever, não possa afastar-se.

Viu-se de tudo o que se espera ver quando os candidatos são tantos. Dez, nunca houve tantos. Viu-se, logo a arrancar, um murro na mesa de Cândido Ferreira (na foto). Tão violento quanto justo. E justificável. E viu-se o inenarrável Tino a lançar foguetes e a fazer a festa, todo contente, com as canas. E a partir destes dois momentos altos viu-se claramente visto que Marcelo está ali para não ser incomodado - o que passa por não incomodar ninguém - neste seu passeio que pretende o mais descontraído possível. Nem que para isso tenha que se prestar a alguma figuras de que, de todo, se deverá orgulhar...

Se já se previa fácil e tranquílo esse passeio de Marcelo a caminho do plesbiscito do próximo dia 24, mais fácil se percebe pelo desempenho daqueles que supostamente seriam os seus principais adversários. Dos dois que, pelas sondagens, discutirão o segundo lugar, que numa forçada segunda volta lhes poderia abrir a janela da bipolarização, que na maior parte das vezes deixa entrar o ar da esquerda. Com maior - Maria de Belém - ou menor surpresa - Sampaio da Nóvoa - os dois maiores adversários de Marcelo não conseguiram fugir a prestações medíocres.

Ao contrário de Henrique Neto que, já com alguma experiência em televisão, e sabendo que o único caminho que tem pela frente é o do ataque, surge neste momento como vencedor do prémio da combatividade desta maratona, ainda com cheiro a S.Silvestre. Que Marcelo ganha sempre, sem precisar de fazer nada... 

Marisa Matias tem discutido com Henrique Neto a primazia pela substância do debate, e Edgar Silva está ali apenas para segurar o eleitorado do PC, para aproveitar este palco para os ataques ao PS, que noutros são agora mais complicados. 

Se alguém depositava altas expectativas em Paulo Morais, desiluda-se. Ao esgotar o seu espaço de intervenção no mono tema corrupção, numa abordagem muitas vezes demagógica, arrisca-se a banalizar um tema central da vida do país. E a pior maneira de enfrentar um grande problema é banalizá-lo!

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Já não há paciência!

por Eduardo Louro, em 20.12.15

FOTO: LUIS FORRA/LUSA

 

Sócrates foi visitar os amigos que deixou na prisão, em Évora. E os guardas, que tão bem o trataram quando por lá esteve: uma obrigação moral, disse ele. Nada de jogadas...

Suponhamos que sim, que Sócrates não resiste a obrigações morais, que é movido por um inabalável apelo interior ao cumprimento do dever e por uma conduta moral acima de qualquer suspeita. Eu sei que é difícil, mas façamos esse esforço.

Já está?

Então por que é que tem de haver sempre jornais e televisões à volta? Por que raio não consegue reservar-se no cumprimento das suas obrigações morais? Por  que diabo não consegue manter estes seus tão nobres sentimentos na restrita esfera da sua privacidade?

É simples, a resposta: para que esta fotografia pudesse existir e correr mundo. A imagem que faltava - a sair da prisão, pelo seu próprio pé, altivo, a deixar aqueles portões para trás - que nada tem a ver com a sua saída verdadeira saída, num carro celular a caminho da prisão domiciliária. A imagem que, para Sócrates, não tem preço. Pela qual estaria disposto a pagar o que fosse... Conseguiu-a de borla!  

Não sei se Sócrates está convencido que somos todos parvos. Se calhar, está... E lá terá as suas razões... Mas já não há paciência para estes jogos!

 

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