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Parece que o PSD está a tentar acertar o passo e corrigir os desvios dos últimos anos. Se assim é, saúdo vivamente a inflexão, que poderá voltar a cativar muita gente que deixou de se rever na deriva liberal populista do partido, capturado num aparelho de interesses dirigido por gente pouco estimulante, para não dizer outra coisa. 

É tempo disso, de regresso à matriz social-democrata. A eleição de Marcelo - mais que a eleição, a forma como foi construída -, por uma lado, e a entrega do CDS ao seu próprio destino - "bem entregue", como se vai vendo pelo discurso de Cristas - constituem a oportunidade para a reconciliação do partido com as ideias da social democracia e para a recuperação de algumas das suas mais produtivas élites.

O problema é fazer isto com as mesmas pessoas. A dificuldade está em acreditar que  quem vai tirar o partido daqui sejam os mesmos que lá o meteram. Pois é: a oportunidade está aí, mas o oportunismo também... 

 

* A expressão até pode ser minha, mas a ideia já nos foi deixada por Agostinho da Silva há muitos, muitos anos.

 

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Como se nada se passasse...

por Eduardo Louro, em 21.10.15

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A transparência, a credibilidade e a seriedade política não são apenas estilhaçadas com falsas promessas, demagogia, trapalhadas e mentiras nas campanhas eleitorais. São-no também - e muitas vez mais - com as caras que se escondem.

Quando a poderosa máquina de propaganda da coligação escondeu Marco António Costa da campanha sabia o que estava a fazer. Quando a primeira cara da vitória na noite eleitoral é exactamente a que a propaganda escondeu durante a campanha, percebe-se a transparência e a credibildiade da campanha que fizeram.

E quando, quer no folclore  das visitas e recepções supostamente negociais, quer do vai-vem a Belém, a cara mais vista pelas câmaras fotográficas e das televisões é justamente a de Marco António Costa, percebe-se seriedade política de Passos Coelho.

Estranhamente, isto não se discute. Discute-se quem trai quem, discute-se o que seria a verdadeira vontade deste e daquele eleitorado (a propósito, imperdível a crónica de hoje do mestre Ferreira Fernandes), discute-se o que foi e o que não foi dito em campanha. Mas a autêntica vigarice que é este tira e põe, esta maneira de apagar o mago das finanças de Gaia da fotografia da campanha, para logo o recuperar  para a foto do poder, passa como se nada se passasse...

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A sequela de "As pessoas sabem com o que é contam da nossa parte" surgiu praticamente de imediato, pela voz da ministra das finanças: "é honesto dizer aos portugueses que vai ser preciso fazer alguma coisa sobre as pensões para garantir a sustentabilidade da Segurança Social".

As preocupações de Maria Luís com a sustentabilidade da Segurança Social são legítimas. É coisa que a todos deve preocupar... Não é aí que está o problema. O problema é que estamos em plena campanha eleitoral, onde o governo é tudo menos anjinho. Onde o governo se sente como peixe na água... e onde não dá ponto sem nó.

O problema é que as preocupações de Maria Luís são outras. Não são tanto com a sustentabilidade da Segurança Social que, também ela, não se preocupa muito em descapitalizar. O convite que a ministra dirigiu ao PS não é, evidentemente, ingénuo. É para simplesmente desbaratar a já de si descredibilizada proposta do PS para reduzir a TSU a empregados e empregadores. É para capitalizar, mas em votos, a tão pouco sustentável proposta do PS. E é para acentuar um dos princípios básicos da frágil filosofia política deste governo: "uns contra os outros". E, com isso, acentuar que "as pessoas sabem com o que é contam da nossa parte"!

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Não me passaria pela cabeça que Passos Coelho tivesse lido isto. Menos ainda que viesse dar-lhe resposta tão pronta... Logo aqui, em Leiria. E logo poucas horas depois ... Já nem sei se não terá vindo de propósito.

Exactamente: Passos explicou por que não está preocupado em apresentar programas... Nem medidas... Nem ideias... Não há pressa, tranquilizou os seus apoiantes de Leiria. E através deles todo o país...

"As pessoas sabem com o que é contam da nossa parte". Também me parece!

 

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Era uma vez...

por Eduardo Louro, em 19.05.15

 

Faz hoje 30 anos que Cavaco chegou à liderança do PSD, que não à vida política. Já em 1979 tinha sido ministro das finanças do governo da AD, liderado por Sá Carneiro. 

Foi na Figueira da Foz, onde decorria o XII congresso do PSD. Quis que ficasse para a história que tinha  acabado de adquirir o seu Citroen BX, a que precisava de fazer a rodagem. E que, para isso, nada melhor que uma viagem de Lisboa à Figueira... Depois... foi chegar, ver e vencer... O discurso arrebatador - imagine-se - e a eleição apoteótica...

Cavaco é isto. Tudo é Cavaco neste simples episódio, que o cavaquismo quis tornar mítico. Ali está o homem providencial, que sempre quis ser. Que está sempre à hora certa no local certo, sem nada fazer por isso. Sempre fora, sempre e acima, dos bastidores da política. Mas também um certo provincianismo da revisão do carro.

O resto da história conhece-se. O homem da estabilidade rompe de imediato com a coligação, e derruba o bloco central. Com o país a sair da crise e das garras do FMI, e a adesão à CEE à vista, apetecem-lhe eleições antecipadas. Ganha por pequena margem, que em pouco tempo o PRD e Mário Soares (a vingança tem destas coisas) transformaram em maioria absoluta. E em dez anos de poder agarrado ao alcatrão e ao betão dos fundos europeus... e aos interesses que à sua sombra cresceram. Que nem cogumelos... 

Depois, à segunda, o homem que não era nem nunca fora político, tem direito a mais dez anos na presidência da República. Ainda faltam uns meses...Que toda a gente deseja que passem depressa! 

 

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"O PSD devia pedir desculpa aos portugueses"

por Eduardo Louro, em 11.05.15

Capa do Correio da Manhã

 

Este é o país das maravilhas de PPC. Sem nada que ver com a propaganda que, ao melhor estilo do velho vendedor de banha da cobra, Passos, Portas & Companhia por aí andam a impingir!

Em boa verdade não é um simples pentelho dizer que "o PSD devia pedir desculpa aos portugueses"...

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Um cromo

por Eduardo Louro, em 22.01.14

 

 

Já aqui escrevi várias vezes sobre o que considero a vergonhosa aprovação da proposta de referendo, na passada sexta-feira. Resisti sempre em escrever o que quer que fosse sobre a atitude da vice-presidente do PSD e do grupo parlamentar, a deputada Teresa Leal Coelho, que se ausentou do hemiciclo na altura da votação e, depois, apresentou a sua demissão da vice-presidência da bancada.

Não é figura por quem nutra especial admiração, já aqui foi de resto referida em circunstâncias pouco abonatórias, personalizando sempre o mais acéfalo seguidismo que a grande maioria dos deputados revela. Um cromo da política!

Fiquei por isso surpreendido. Nunca a imaginaria a desafiar o poder, não a julgava capaz daquela verticalidade que faria supor lealdade a princípios e valores de que a julgaria arredada.

Era no entanto tal a pedra no sapato que nem essa surpresa me levou, apesar da tentação – se há coisa que gosto é de corrigir as minhas próprias impressões quando reconheço que estão erradas –, a louvar a sua atitude e a revelá-la como o raio de luz que brilhou naquela tarde negra do parlamento. Não me arrependo: afinal, quer a proposta quer a fixação da disciplina de voto, tinham sido aprovadas por unanimidade pela Comissão Política Nacional, em 22 de Outubro. Afinal a senhora concordara com aquilo tudo e, vá lá saber-se porquê, mudou depois de ideias…

Está-se sempre a tempo de mudar. Não há mal nenhum nisso, especialmente se for para melhor. Mas um cromo é um cromo!

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Dia agitado no PSD

por Eduardo Louro, em 05.12.13

A apresentação da plataforma “Uma agenda para Portugal”, dada como a passadeira vermelha para levar Rui Rio - que naturalmente negou, sem que isso acrescentasse ou retirasse o que quer que fosse - à presidência do PSD, lançou a histeria na direcção do partido. E se a coisa fica histérica quem logo se chega à frente é a vice-presidente Teresa Leal Coelho que, sem mais, se atirou aos barões que nem gato a bofes…

Também Passos não conseguiu no primeiro momento esconder o nervosismo. Deixou passar o dia – não tem mesmo asas, nem para voar quanto mais para golpes da dita – e já lá para o fim mandou-se de cabeça para a recandidatura à liderança do partido. 

Tudo isto no dia do ano em que mais de fala de Sá Carneiro!

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Ver para crer

por João António, em 28.10.13

A CDU de Loures assumiu nesta segunda-feira a existência de “um acordo de princípio” de governação com o PSD que passa pela entrega de pelouros aos sociais-democratas, com o objectivo de “encontrar soluções para a estabilidade na gestão da câmara” agora presidida pelo comunista Bernardino Soares. Em comunicado, a CDU acrescenta que tal “não prejudica” a aplicação do seu programa, opções e prioridades, “nem a posição da CDU em relação à política do Governo em geral”. ...

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Hipocrisia

por Eduardo Louro, em 13.10.13

Não é apenas nas suas condições económicas e sociais que o país atingiu a degradação máxima. A situação calamitosa do país mede-se ainda, e provavelmente com mais precisão, pela degradação moral e ética a que chegou.

A perda de soberania que o resgate arrastou não explica tudo, nem nada que se pareça. Perder soberania não tem que implicar a perda de dignidade. Nem sequer do direito ao respeito!

Infelizmente somos governados por gente que não percebe ou não quis perceber isto, gente que em vez do tronco direito e cabeça bem levantada prefere a posição de cócoras. Gente que irá morrer sem perceber que, quanto mais servis, mais desprezados. Como se tem visto de Bruxelas e Berlim e como entra agora pelos olhos dentro em relação a Angola!

Quando se perde o respeito, perdem-se todos os valores de referência moral e ética e é a demagogia e a hipocrisia que passam a dominar as relações sociais e políticas.

Para fazermos uma ideia da hipocrisia instalada no país peguemos apenas em dois dos casos mais relevantes da semana que hoje termina: chamemos-lhe o caso Rui Machete e a subvenção vitalícia dos políticos ou, com mais rigor, dos que exerceram cargos políticos de poder.

Não é para voltar a referir incorrecções factuais, nem sequer eventuais comportamentos criminosos do incrivelmente ainda ministro dos negócios estrangeiros. É apenas para dar nota da ausência do PCP nas críticas ao escabroso pedido de desculpas diplomáticas a Angola. Toda a oposição condenou – e atacou fortemente - o ministro. À excepção do PCP!

Na penosa audição da passada terça-feira o PCP conseguiu a proeza de interrogar o ministro sem uma única pergunta sobre o caso angolano. Em semana de prémios Nobel, este seria um sério candidato ao prémio Nobel da hipocrisia!

Deve dizer-se em abono da verdade que o PCP não esteve sozinho nesta sua atitude. Também Maria de Belém achou que deveria aproveitar a presença do ministro, não para o questionar sobre o que ali o trazia, mas sim sobre a lei orgânica do ministério…

Depois da hiper-hipocrisia de Paulo Portas no final da semana anterior, quando ao lado de Maria Luís Albuquerque garantia que não havia mais austeridade nenhuma, o PSD deixou o CDS sozinho a falar do corte das pensões de sobrevivência, já conhecido pela TSU das viúvas onde, de resto, hipocrisia e demagogia foram coisas que não faltaram, com Paulo Portas a dar exemplos de pensões de 4 mil euros e Motas Soares a subir ainda a mais a parada, para 5 mil euros. Logo que deu por isso, que ficava com a cara colada àquele corte, o CDS tira da manga o corte nas subvenções vitalícias dos políticos.

Estas subvenções, que nada de contributivo têm, vão parar aos bolsos de toda a gente que desempenhou cargos políticos, que acumulam com os seus vencimentos de banqueiros, de presidentes de empresas públicas, ou de administradores das principais empresas privadas que, por via das PPP ou das rendas negociadas com o Estado, têm lugar á mesa do orçamento. E, naturalmente, só tinham que ter sido integralmente cortadas antes do primeiro corte nas pensões!

O CDS, logo seguido do PSD - que agora está de olho bem aberto para não se deixar comer pelo parceiro de coligação – sugeriu um corte de 15%, se bem que logo tenha avançado que, correcto mesmo, seria cortá-lo na totalidade. Repare-se que se trata de CDS e PSD, nada de governo, do governo que entretanto ia alimentando as fugas de informação que importavam.

Entretanto, o PS que nunca está de acordo com nada do que venha daqueles lados, veio logo a correr dizer que achava muito bem, que era justo … o corte de 15%. Antes que a ideia de acabar com esta marmelada avance, vamos já segurar isto por aqui!

Manuel Alegre saiu de imediato para o campo de batalha: era o que faltava, isto é um hediondo ataque aos políticos. E, também aqui, o PCP se lhe junta…  

Não há dúvida: estamos entregues à bicharada. Quer dizer, à hipocrisia.

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