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Este governo está um mimo, exactamente no ponto.
Paulo Portas vai efabulando à volta das exportações – “uns dedicam-se às exportações e outros a manifestar-se” e outros, acrescentaria eu, a dizer e fazer disparates - sem sequer perceber que não somos produtores de petróleo.
Nuno Crato anda eufórico com os 40 mil professores já inscritos para o exame. Que ainda não perceberam que entretanto já não são professores. Que, ao inscreverem-se para o exame, deixaram de ser professores para passarem a ser candidatos a professores. E muito menos perceberam que, para o ministro Crato, deixaram de ser uma dor de cabeça – um exército de contratados excedentários – para passarem a ser uma excitante e grata surpresa. É que o ministro Nuno Crato não conseguiu esconder a surpresa pela afluência ao exame que, no seu entender, quer apenas dizer que há muita gente, jovens e menos jovens, que quer ser professor e dignificar a profissão. Gente que gosta da profissão, e isso é o primeiro passo para serem bons professores… Notável!
Notável é ainda o ministro Aguiar Branco, que garante toda a transparência no processo de reprivatização dos Estaleiros Navais de Viana do Castelo, ao mesmo tempo que diz aos trabalhadores que recebem agora as suas indemnizações mas que em Janeiro estarão de volta ao seu trabalho nos Estaleiros. Porque só eles têm qualificação para isso!
Melhor só o burro mirandês que hoje faz capa (e chacota) no International New York Times…
O desemprego baixou no segundo trimestre. Vamos deixar de lado se baixou muito pouco, e se o que baixou foi à conta de salários ainda inferiores ao salário mínimo.
As exportações continuaram a crescer, bem para além do que se estava à espera, e Maio foi o melhor mês de sempre no que toca a volume de transacções para o exterior. E admite-se mesmo que a economia esteja a sair da recessão!
Ora tudo isto são boas notícias, mesmo que não tão boas quanto gostaríamos que fossem. A quebra do desemprego pode resultar apenas de fenómenos de sazonalidade, de contratos de curtíssima duração que, passado o Verão, devolvem ao desemprego os números assustadores de sempre. E traduziu-se apenas nos salários mais baixos, deixando a ideia que a economia que pode estar a sair da recessão vai fazê-lo em novas bases. Em especial na base de salários baixos – ainda mais baixos!
Mas têm que ser boas notícias, porque é de boas notícias que também a economia vive. É de optimismo, que gera confiança, que a retoma se faz.
Pena é que o governo nada contribua para isso. Que, quando saem estas notícias, em vez de as potenciar, esteja paralisado por ministros e secretários de estado enterrados em aldrabices. Que, antes de serem demitidos, não poderiam ter sido admitidos. Que, quando há notícias destas para dar, dê as de cortes de pensões. E as das excepções, porque, afinal, os cortes nunca são para todos. E deixe intactas as imoralidades que todos conhecemos…
Quando as exportações são a única saída para a economia portuguesa. Quando é na América do Sul que está o seu maior potencial de crescimento. Quando, ainda há uma semana, Portas por lá andava – e bem – a fazer por isso, o mesmíssimo Portas brinda o país com uma última decisão que arrasa com tudo isso.
Mais papista que o Papa, ou simplesmente irresponsável, Portas proibiu a aterragem, para escala técnica em Portugal, do avião presidencial da Bolívia. A França, outro dos bons exemplos da esquizofrenia que por aí vai, fez o mesmo e foi a Áustria a permiti-lo!
A actual América do Sul não é só uma das regiões do mundo em maior crescimento, que ninguém responsavelmente pode negligenciar. Não é só a região do mundo com maior homogeneidade política, governada à esquerda. É ainda a região do mundo de maior solidariedade política, onde os governos mais cumplicidades revelam entre si…
Por isso esta é a decisão mais gravosa de Portas. Mais ainda que a da demissão, que terá tomado logo depois… Mas que deveria ter tomado antes!
Já todos perdemos a capacidade de nos indignarmos com a desfaçatez dos políticos que nos governam. Com a falta de vergonha, com a falta de sentido do ridículo, com a aldrabice…
Só isso poderá explicar que Vítor Gaspar diga estas coisas sem que ninguém se importe. Ouvir nesta altura Gaspar dizer, com o ar mais sério deste mundo e a maior das convicções, que “o país está agora numa situação em que pode entrar numa nova fase da recuperação, menos baseada nas exportações”, e que depende agora mais “da dinâmica interna e do investimento produtivo”, dá voltas ao estômago de qualquer um.
Quando tudo falhou, quando até o comportamento estóico das exportações nacionais começa também a ceder, quando já não há tábua a que o náufrago se possa agarrar, Vítor Gaspar vem dar o dito por não dito, inverter o discurso, dizer que é bom o que antes era mau.
Fica provado que Vítor Gaspar tinha um rumo, só que nem ele nem ninguém alguma vez soube qual era. Limita-se a seguir um senhor numa cadeira de rodas, acreditando que ao seu lado, vá ele para onde for, vai bem!