Saltar para: Posts [1], Pesquisa e Arquivos [2]



O regresso de Schäuble

por Eduardo Louro, em 12.02.16

Imagem relacionada

 

Os mercados - ei-los de novo - estão nervosos. E terão razão para isso: por todo o mundo as bolsas caem e os rumores de novas bolhas prontas a rebentar sucedem-se. Na Europa as coisas não estão melhor, antes pelo contrário. Em Espanha - sem governo, nem solução à vista - o IBEX (o índice bolsista da Bolsa de Madrid) já caiu, este ano, mais de cem milhões de euros. Em França, a Societé General, o maior banco francês, afunda-se. E, the last, not the least, nos mercados ninguém acredita na solvência do Deutsche Bank. Isto é, também a poderosa e irrepreensível Alemanha está a assistir ao colapso do seu maior banco.

Não são, pois, poucas as razões de susto para os mercados. Reparo, com surpresa, que nenhuma tem o que quer que seja a ver com Portugal. Alguma coisa me deve ter falhado, porque Herr Schäuble, o visionário ministro das finanças alemão, para gáudio dos seus admiradores em Portugal - na primeira linha dos quais está Passos Coelho, que até já aproveitou a maré - gritou bem alto, e com o habitual dedo (torto) em (pouco) riste, que "Portugal não pode continuar a perturbar os mercados".

É isto a Europa de Schäuble e da direita míope que a está a destruir. Não há qualquer problema económico numa economia que há anos está estagnada e que não encontra saída para o crescimento. Não há problema social que tire o sono a ninguém, quando o desemprego continua sem solução. Não há problemas políticos para resolver em lado nenhum, quando valores democráticos - fundamentos da integração e condição indispensável à adesão - estão postos em causa nalguns países membros. Não há nenhum problema no seu sistema financeiro, quando os seus maiores bancos começam a dar maus sinais. Não há qualquer problema com Schengen. Não há problemas com a Inglaterra. Não há problemas com os milhões de refugiados que estão a entrar pelas suas fronteiras dentro. Não há qualquer problema que regiões do globo estejam a ser destruídas, e a alimentar o infindável surto de refugiados que de lá são obrigados a fugir.

Problema, problema sério, é Portugal. Só porque a maioria dos eleitores disse que a receita do Sr Schäuble, aplicada durante quatro anos, e ao contrário do que ele continua cegamente a garantir, não funcionou. E que, por isso, tinha de ser abandonada!

Autoria e outros dados (tags, etc)

Somos um país de especialistas

por Daniel João Santos, em 04.07.15

Entretanto por cá todos são especialista na Grécia. Nas televisões, rádios e jornais, todos sabem o que é melhor para os gregos. Os que sabem a solução do imbróglio grego são os mesmos que sabem a solução para Portugal, para o futebol, para a poluição, para o planeta, para as guerras, para as crises, para a caspa, para o míldio e para o cultivo dos tomates na Lua.

Autoria e outros dados (tags, etc)

Uma mini e um pires de tremoços, por favor.

por Daniel João Santos, em 06.06.15

Como sinto saudades da bloga que trocava ideias, algo raro hoje em dia, leio o Delito de Opinião com entusiasmo. Hoje, embora com atraso, li um bom texto escrito por Sérgio de Almeida Correia, que me foi indicado mais abaixo num comentário, onde o bloguer escreve sobre a saída de Jorge Jesus para o Sporting, o festival mediático e um país que está alienado da realidade. Escreve Sérgio de Almeida Correia que enquanto se abrem jornais, telejornais e se debate Jorge Jesus, não se fala da crise nos planos social, ético, moral, demográfico e ortográfico, nos sistemas de justiça, de saúde e de segurança social, na educação, na banca, nos impostos, no sistema eleitoral, no sistema de partidos, nos índices de confiança nas instituições políticas e judiciárias, na polícia, na política. E ainda: "Tudo isto acontece num país que saiu há pouco mais de um ano de um programa de resgate internacional, a quatro meses de umas eleições legislativas e a seis de umas eleições presidenciais, com greves e pacotes de privatizações em curso, sem se saber o que vai acontecer com as reformas, com os escalões do IRS ou com a TSU dentro de alguns meses. Ninguém sabe quando o próximo Governo tomará posse, nem até quando se irá viver sem o Orçamento de Estado para 2016."

Tem razão Sérgio de Almeida Correia, ninguém fala desses problemas todos. E ninguém fala disso porquê? Fácil! Está explicado no conjunto de assuntos/problemas que são explanados pelo bloguer. Ninguém tem já paciência para tanto e tanto problema. Para isso já basta os problemas do dia a dia: levantar cedo, sair a correr, enfrentar o transito, levar os miúdos à escola, correr para o emprego - quem o tem -, aturar um chefe abominável, trabalhar debaixo de pressão, meter duas garfadas ao meio-dia na boca, levar com mais e mais do mesmo, sair a voar, apanhar os miúdos, enfrentar o transito, preparar o jantar, dar banho aos miúdos, jantar, deitar os miúdos e arrastar o corpo moído para a cama. 

Claro que o povo, este povo que faz isso durante todos os dias do ano, está alienado da crise. Sempre que pode, este moído povo, chega a barriga ao balcão, manda vir uma mini para empurrar um pires de tremoços, enquanto discute a ida de Jorge Jesus para o Sporting.

Autoria e outros dados (tags, etc)

Tanto para aturar...

por Eduardo Louro, em 18.11.13

Enquanto a população sofre cada vez mais as agruras da crise, disparam os números da emigração e o país perde os mais novos e mais capazes, os boys vão-se instalando, aconchegando e acomodando.

Em Maio, como então aqui foi dada nota, já o governo tinha nomeado mais de 4 mil – 4463, com precisão. Dos motoristas – só o primeiro-ministro tem onze por sua conta –, com vencimentos superiores a médicos, soube-se até de um caso em que, à data da nomeação em Diário da República, o motorista nem sequer tinha ainda carta de condução.

Há três semanas atrás, como também aqui se deu conta, era o Secretário de Estado Carlos Moedas que nomeava dois jovens de 21 e 22 anos, acabados de sair da escola, mas especialistas. Desta feita, como conta o João Garcia no Expresso deste fim de semana, foi Jorge Barreto Xavier, o Secretário de Estado da Cultura, área que não tem orçamento para coisa nenhuma e onde o governo vai cortar 15 milhões de euros em despesas com pessoal, que recrutou para o seu gabinete um rapaz de 24 anos cuja qualificação é ser boy do PSD. O seu currículo não engana, e lá constam três workshops no Centro de Formação de Jornalistas (Cenjor) e um estágio de seis meses na Renascença, onde se seguiram oito meses de trabalho, antes de transitar para consultor de comunicação do PSD, onde permaneceu os cinco meses que antecederam esta nomeação. Que deixa este Secretário de Estado, como refere Henrique Monteiro hoje na edição digital do Expresso, com quatro adjuntos, sete técnicos especialistas, duas secretárias pessoais, um chefe de gabinete, dez técnicos administrativos, três técnicos auxiliares e, evidentemente, três motoristas.

Este boy tem um vencimento superior a 3 mil euros. Tanto quanto – conforme também João Garcia escrevia no Expresso – um médico chefe de serviço hospitalar sem exclusividade, mais do que um juiz de primeira instância e o dobro de um professor efectivo em início de carreira!

Esta gente não tem vergonha, nem por onde ela passe…

E lembrarmo-nos nós que ainda temos de aturar o discurso das Margarida Rebelo Pinto e dos João César das Neves …

Autoria e outros dados (tags, etc)

Era hoje. Precisamente hoje!

por Eduardo Louro, em 23.09.13

Era hoje. Era para hoje, 23 de Setembro de 2013, que Vítor Gaspar tinha agendado o regresso aos mercados.

O processo de ajustamento, um ano antes do fim do programa da troika, estaria concluído e Portugal regressaria hoje aos mercados… A certeza era tanta que até dava para fixar um dia. Exactamente, com toda a precisão!

Não sei se tinha alguma coisa a ver com as eleições na Alemanha. Se seria a homenagem que Vítor Gaspar quereria prestar à senhora Merkel. Sei – sabemos – que este 23 de Setembro dá para Merkel festejar. Os alemães adoram-na, deram-lhe 41,5% dos votos, mesmo que lhe tenham deixado nas mãos a batata quente de formar governo sem a sua habitual bengala, os liberais do FDP. E que, por cá, em vez de regresso aos mercados, se fala de novo resgate. E que lá por fora Portugal não é mais o bom aluno, mas o problema maior do euro

Autoria e outros dados (tags, etc)

Acabou o Verão. Voltemos à realidade!

por Eduardo Louro, em 13.09.13

Admito que já nem todos se lembrem, mas o grande objectivo do governo e a bandeira de Vítor Gaspar, o regresso aos mercados, estava marcado para 23 de Setembro. Bem sei que não é na próxima segunda feira, é na outra!

Falta uma semana, e em vez de vermos os mercados a fervilhar de expectativa à nossa espera, ansiosos por nos receberem de braços abertos, vemo-los de costas viradas, lá muito longe, afastados como há muito não víamos. É exactamente isso que quer dizer a taxa de juro já bem acima dos 7% nos mercados secundários, ao nível do pior de 2011, quando o resgate era inevitável!

Quer isto dizer que, ao contrário do que vinha sendo apregoado pela máquina de propaganda ao serviço do governo, o país não recuperou confiança nenhuma. Os credores não acreditam que Portugal possa alguma vez pagar o que deve, e não há regresso nenhum aos mercados. Nem na data marcada por Passos e Gaspar nem em qualquer outra!

Porque, como sempre se disse, o programa da troika não batia certo e, no que batia, não foi executado. Veja-se a paradigmática reforma do Estado: absolutamente indispensável (reforma administrativa, reforma da justiça, desburocratização, eliminação de serviços duplicados e triplicados, reforma da administração local, reforma do sistema eleitoral, etc.) foi transformada numa mal amanhada junção de umas freguesias e no corte cego funcionários públicos.

E, por isso, como Vítor Gaspar enunciou sem rodeios na sua carta de demissão que quis tornar pública, tudo falhou.

Os objectivos de controlo do défice falharam sucessivamente, como irão continuar a falhar. Paulo Portas e Maria Luís Albuquerque andaram toda a semana, em Bruxelas e em Washington, a tentar convencer a troika a mais uma flexibilização (de 4 para 4,5%). Sem êxito, ao que parece, mas também sem convicção, com a ministra das finanças já hoje a garantir que a meta estabelecida é para cumprir, que não há pedido nenhum de flexibilização, em conformidade com o seu chefe natural e em confrontação aberta com o chefe que lhe foi imposto. Bonito!

A dívida, que a máquina de propaganda do governo diz ser para pagar e estar a ser paga, não parou de subir e já passa dos 130% do PIB. Impagável, como toda a gente sabe. Se antes se falava da renegociação da dívida como condição sine qua non para o sucesso da recuperação económica e financeira do país, hoje já não há economista sério que não tenha que dizer que sem perdão de dívida, sem hair cut, não há recuperação possível.

É por isto que ninguém já acredita no chamado programa de ajustamento.  Mas, para Maria Luís Albuquerque, não é por nada disto. 

É pelo Tribunal Constitucional. Exactamente em conformidade com o seu chefe natural e, mais uma vez, em confrontação com o chefe imposto!

Dramático. Por cá ninguém põe ordem nisto: não há oposição, Seguro é cada vez mais uma anedota e Cavaco auto mutilou-se. E a União Europeia continua congelada pelo frio do norte, imobilizada, como se nada percebesse do que se está a passar, como se voltou a ver hoje na reunião do eurogrupo. Ou irresponsavelmente na lua, na pessoa do seu suposto responsável máximo...

 

Autoria e outros dados (tags, etc)

Fim-de-semana trágico

por Eduardo Louro, em 16.06.13

Este foi um fim-de-semana marcado pela violência, pela tragédia e pela morte. Não estávamos em Portugal habituados a isso!

Íamo-nos habituando a assaltos cada vez mais violentos, é certo. Íamos percebendo a multiplicação de actos de violência, e íamos levando – também isso – à conta da crise prolongada onde caímos e donde não vemos maneira de sair.

Mas agora começa a haver razões para temer uma escalada de violência. Pela crise económica, pela crise social. Pelo desespero que cada vez mais se apodera de cada vez mais pessoas… Mas acima de tudo pela violência que gera violência!

 

Autoria e outros dados (tags, etc)

A pergunta que se impõe fazer

por Daniel João Santos, em 09.06.13

"O que vocês, no Japão, têm de saber é que a crise na Europa acabou."- Presidente francês, François Hollande.

 

Isto quer dizer que Portugal não pertence à Europa?

Autoria e outros dados (tags, etc)

Sem rumo... vá lá para onde for!

por Eduardo Louro, em 29.05.13

 

Já todos perdemos a capacidade de nos indignarmos com a desfaçatez dos políticos que nos governam. Com a falta de vergonha, com a falta de sentido do ridículo, com a aldrabice…

Só isso poderá explicar que Vítor Gaspar diga estas coisas sem que ninguém se importe. Ouvir nesta altura Gaspar dizer, com o ar mais sério deste mundo e a maior das convicções, que “o país está agora numa situação em que pode entrar numa nova fase da recuperação, menos baseada nas exportações”, e que depende agora mais “da dinâmica interna e do investimento produtivo”, dá voltas ao estômago de qualquer um.

Quando tudo falhou, quando até o comportamento estóico das exportações nacionais começa também a ceder, quando já não há tábua a que o náufrago se possa agarrar, Vítor Gaspar vem dar o dito por não dito, inverter o discurso, dizer que é bom o que antes era mau.

Fica provado que Vítor Gaspar tinha um rumo, só que nem ele nem ninguém alguma vez soube qual era. Limita-se a seguir um senhor numa cadeira de rodas, acreditando que ao seu lado, vá ele para onde for, vai bem!

Autoria e outros dados (tags, etc)

Em Paris...

por Eduardo Louro, em 14.05.13

Depois do FMI, agora que já ninguém se lembra do que foi o seu Relatório, das boas às más propostas, chegou a vez da OCDE. Com o mesmo destino: primeiro pôr a mão por baixo das medidas que o governo anuncia e, depois, seguir para o caixote do lixo!

Neste Relatório a OCDE quer acabar com tudo. Com tudo menos com o que realmente nos aflige. Mas alegremo-nos: o défice para este ano deverá ficar nos 5,5% e já se prevê crescimento económico … para 2020!

Tudo isto dito em Paris. É verdade, um Relatório encomendado pelo governo português e sobre Portugal, é apresentado com pompa e circunstância  em ... Paris. Com a presença do primeiro-ministro. Sem ponta de vergonha, evidentemente!

Autoria e outros dados (tags, etc)