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As faces da pobreza

por Cristina Torrão, em 20.07.11

Antigamente, era-se pobre, quando se passava fome, só se tinham trapos rotos para vestir e as crianças tinham de trabalhar, o que não lhes dava tempo para frequentarem a escola. Deste ponto de vista, hoje em dia, a percentagem de pobres na União Europeia será mínima, mesmo num país “lixo” como Portugal. Só jovens desobedientes não vão à escola. E muitos dos pobres são obesos!

 

Na verdade, a pobreza actual está revestida de outras características, impossibilitando o avaliar das situações à luz dos parâmetros de há décadas atrás. Li um interessante artigo num jornal católico alemão, do qual traduzo parte:

 

A pobreza não se nota apenas no pouco dinheiro que se leva na carteira, as razões para que alguém se sinta pobre não estão relacionadas só com o que se recebe. O maior problema, para a maioria, é a dependência, quando o dinheiro para a subsistência não vem de um empregador, mas do Estado, ou da caridade alheia. Pobreza significa, ainda, ter-se menos oportunidades na vida, começando pelas lições de música para os mais pequenos, até à integração dos jovens no mundo do trabalho. Pobre pode ser o empregado do matadouro, mesmo que tenha emprego a tempo inteiro; a mãe desempregada, ou com emprego precário, que educa os seus filhos sozinha; o desempregado a longo prazo; o doente crónico; o filho de imigrantes. A pobreza tem várias faces e diferentes razões. O cliché do desempregado preguiçoso, que vive à custa de quem paga impostos, só se verifica em casos esporádicos. A questão não é, infelizmente, tão simples quanto isso.

 

Na verdade, a maior parte das pessoas sente vergonha por viver de subsídios sociais, o que leva à sua exclusão social, à solidão. Também a criança, cujos pais não têm dinheiro para a mandar para aulas de música, de desporto, ou para lhe pagar o cinema, o telemóvel, ou outras actividades exercidas pelos colegas da escola, se sente excluída e marginalizada. Sente-se pobre. Mesmo que esteja empanturrada de fast-food.

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6 comentários

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De Daniel João Santos a 20.07.2011 às 21:50

realmente existem alguns que se acham pobres por não terem férias no estrangeiro... habituados a grades voos é difícil voar baixinho.
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De Cristina Torrão a 21.07.2011 às 08:21

Sim, Daniel, claro que há quem reclame sem razão, com dificuldade em distinguir o essencial do, digamos, dispensável.

Por outro lado, hoje em dia, os parâmetros são diferentes e é para isso que quero chamar a atenção. Tudo é relativo. Para as pessoas que vivem na Somália, neste momento, um garrafão de água potável é a maior riqueza que conseguem imaginar. Mas isso não serve para consolar uma criança portuguesa, cujos pais vivam de ajudas sociais(como da Cáritas, por exemplo). Ela pode não ter fome, mas, sente-se excluída socialmente, por não poder acompanhar os colegas da escola em certas actividades. E a exclusão social é um problema grave, principalmente, para uma criança.
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De MaFaR a 21.07.2011 às 07:11

Pertinente.

(coloquei um link para este post em 'Ecos de Outras Vozes')

Obrigada por focar um tema que me é caro.
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De candido a 21.07.2011 às 08:32

O paradigma está em mudança a grande velocidade! Não sabemos é onde isto vai parar....
Obs: Ontem consegui encomendar os seus livros na fnac, depois da minha insistencia de que não estavam esgotados.
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De Cristina Torrão a 21.07.2011 às 08:47

Um grande beijinho para si, candido

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